As Câmaras, as frentes e a lacração antipetista, por Danilo Alves

Na minha singela percepção, em vez de ficarmos buscando lacração na nossa bolha, nas redes, deveríamos somar esforços em busca de um diálogo com o Brasil real. Este, sim, está mergulhado na luta cotidiana pela sobrevivência

Foto: Central Única dos Trabalhadores (CUT)
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Por Danilo Alves *

Evito críticas muito ácidas a outros partidos de esquerda nas redes, por acreditar que isso só acirra os ânimos num contexto no qual o único caminho que temos é o da criação de frentes, mesmo em nível regional. O que tenho pra dizer, digo fora desses ambientes, de preferência olho no olho. Infelizmente, muitos companheiros pensam o contrário. Gostam de fazer do PT a Geni das redes. Soa limpinho. É cheiroso. Dá like.

O tema que serviu como pano de fundo para a malhação do Lula Iscariotes do momento foi o apoio do PT a Rodrigo Rocha (DEM), em detrimento da candidatura de Simone Tebet (MDB), uma lavajatista efusiva, para a presidência do Senado da República. Os argumentos são os de sempre: ser conciliador, capitular e se vender por lugares nas mesas diretoras, enfim... Um moralismo tosco e em grande medida similar ao utilizado para a criminalização da política, em especial das forças de esquerda. 

Curiosamente, a mesma sanha por um essencialismo moral e político não aparece em relação ao apoio de Sâmia Bonfim e Marcelo Freixo (ambos do PSOL) ao bloco de centro-esquerda que concentra a candidatura de Baleia Rossi (MDB) para a presidência da Câmara Federal. Menos ainda, noutro exemplo, para a chapa unitária da Câmara de Vereadores de Belém, onde o MDB ficou com a presidência e o PSOL com a 1ª secretaria.

Não pretendo discutir aqui o mérito das escolhas em compor, ou não, em cada um dos casos citados. Tudo depende, obviamente, das conjunturas específicas. Só que me questiono se para o cidadão comum faz alguma diferença o purismo ideológico de perder, mas perder com princípios, com o punho em riste e a legenda “Não Passarão!” nas redes.

Massagens no ego e vaidades à parte, isso constrói algo? Aproxima-os da suposta base da qual o PT se distanciou? Na minha humilde e singela percepção, em vez de ficarmos buscando lacração em nossa bolha, nas redes, deveríamos somar esforços em busca de um diálogo com o Brasil real. Este, sim, está mergulhado na luta cotidiana pela sobrevivência, que pega o vale já no dia 15 pra fazer a compra do mês e pegar busão lotado pro trampo, na ida e volta.

Enquanto a ultradireita se aproxima cada vez mais dessa galera, a gente fica escrevendo textão e dizendo que eles não prestam porque andam com a máscara no queixo. Bora colocar o pé no chão, meu povo? Até porque o barato é louco e o processo é lento. Bem lento...

*Danilo Alves é professor de Filosofia na Rede Estadual paulista, mestre em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC e 1° suplente de vereador em Santos (SP) pelo Partido dos Trabalhadores.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.