Mil dias de Doria: Peça de ficção e um estado em liquidação – Por Emidio de Souza

No estado que perdeu 1,8 milhão de postos de trabalho em 2020 e que a pobreza atinge 20% da sua população, o governador nada faz para barrar a desindustrialização, atrair empresas, gerar emprego e renda

João Doria - Foto: Wilson Dias/Agência BrasilCréditos: Wilson Dias/Agência Brasil
Escrito en DEBATES el

Por Emidio de Souza*

Nesta semana, a imprensa noticiou que a preocupação do presidente Jair Bolsonaro, em Brasília, era mostrar alguma coisa nos mil dias de seu governo. Em São Paulo, o governador João Doria não demonstrou o mesmo interesse, talvez por não ter muito a mostrar. Por isso mesmo cabe a pergunta: o que fez Doria em mil dias de governo?

Uma resposta certeira é que Doria fez marketing e campanha. Desde que assumiu o Palácio dos Bandeirantes, o governador só pensa nas eleições à presidência da República de 2022. Chegou mesmo a romper com o atual presidente, com quem fez uma notória dupla em 2018 - o BolsoDoria.

Até aí, o comportamento do governador não é nenhuma novidade. Doria assumiu a prefeitura de São Paulo e, antes mesmo de esquentar a cadeira, já era candidato a governador. Resta saber se Doria vai ser mesmo candidato à presidência, já que colhe as inimizades que semeou em todos esses anos e não parece que nem mesmo as prévias no PSDB estão garantidas.

Quanto à gestão, Doria não fez a sua parte e, até para os seus aliados, deixou a desejar. É verdade que o governador saiu na frente na corrida da vacina contra a Covid-19 e fez da CoronaVac uma arma de guerra contra Bolsonaro. Mas isso não basta. Antes de se indispor com Bolsonaro, Doria atacou o Instituto Butantan, órgão que se tornou indispensável para a produção de vacinas. Além disso, cedeu a lobbies em vários momentos durante a pandemia, anunciando volta às aulas e abrindo o comércio quando cientistas diziam que ainda não era seguro. O resultado é que a mortalidade média de Covid-19 em SP é maior que a brasileira.

No estado que perdeu 1,8 milhão de postos de trabalho em 2020 e que a pobreza atinge 20% da sua população, o governador nada faz para barrar a desindustrialização, atrair empresas, gerar emprego e renda. Do contrário, insiste numa lógica neoliberal e em políticas que nada reduzem a desigualdade.

Doria também vai passar para a história como um governador entreguista. Ele já falou em 220 privatizações e a Sabesp é uma das empresas que ainda pode figurar entre esses projetos. Dersa, Emplasa, CPOS, Codasp, Complexo Esportivo do Ibirapuera, Zoológico, Zoo Safari, Jardim Botânico e alguns parques estaduais foram extintos ou estão em fase de negociação. Não fosse governador, podíamos chamá-lo de corretor de negócios.

A lista de maldades do governador é grande. Fechamento das unidades do Bom Prato aos finais de semana, esvaziamento dos recursos para as universidades estaduais e entidades de pesquisa, fim do direito das pessoas com mais de 60 anos à gratuidade no transporte público, corte de recursos para saúde.

Enfim, o pacote de perversidades ainda inclui uma reforma da previdência que atentou contra o quadro do funcionalismo público, com o desconto de até 16% nos salários dos servidores aposentados, e uma reforma administra que colocou fim à isenção de IPVA para pessoas com deficiência. Afinal, o

governador é tão bom de tirar direitos das pessoas quanto em fazer marketing.

O resumo dos mil dias de governo Doria não podia ser diferente: uma peça de ficção e um estado em liquidação. E São Paulo, que se aproxima da triste marca de 10 mil dias sob mando do PSDB em 27 anos, felizmente celebra que a era de mentiras se aproxima do fim, pois restam poucos sob a riste do atual governador.

*Emidio de Souza é deputado estadual pelo PT e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alesp.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.