A violência contra mulheres na política precisa ser repudiada – Por Isa Penna

É nesse cenário de constantes agressões, fruto do machismo e da misoginia, que é possível compreender a dificuldade em se obter punição justa pelo assédio explícito que sofri na Alesp

Foto: Assembleia Legislativa de São Paulo
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Por Isa Penna *

Dentre as muitas violências que vêm sendo cometidas contra a população em meio à pandemia, estão vários atos de violência praticados contra mulheres candidatas e eleitas. Após a execução de Marielle Franco, há três marços atrás, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) foi ameaçada de morte, a prefeita eleita de Bauru, Suéllen Rosim (Patriota-SP) foi alvo de ataques antes mesmo da posse, assim como a vereadora eleita Érika Hilton (PSOL-SP), que teve seu gabinete invadido, e as covereadoras Carol Iara e Samara Sosthenes (PSOL-SP), vítimas de ataques às suas moradias no fim de janeiro.

É em meio a esse cenário de constantes agressões a mulheres que ocupam espaços de poder, fruto do machismo e da misoginia estruturais, que é possível compreender a dificuldade em obter uma punição justa pelo assédio explícito que sofri no plenário na Assembleia Legislativa de São Paulo. Uma continuação cínica e cruel da violência que sofri aconteceu no dia 5 de março, quando o Conselho de Ética da Alesp reuniu-se para apreciar o relatório do deputado Emídio de Souza (PT), que propôs a pena de suspensão do mandato do meu agressor, deputado Fernando Cury, por seis meses, sem quaisquer subsídios e vantagens deste decorrentes.

Diante da possibilidade de que se abrisse o precedente de uma punição “tão exemplar” contra o machismo, o deputado Wellington Moura (Republicanos) lembrou que seria a primeira suspensão de mandato sem vencimentos da Casa. Propôs então uma alternativa: a suspensão de Cury por 119 dias, sem suspensão de vencimentos dos servidores de seu gabinete e sem a necessidade de recorrer a um suplente para substituir o deputado afastado.  

Ao final da sessão, apoiaram Moura os deputados Delegado Olim (PP), Estevam Galvão (DEM), Alex de Madureira (PSD) e Adalberto Freitas (PSL), e acompanharam o voto do relator os deputados Barros Munhoz (PSB), Erica Malunguinho (PSOL) e Maria Lucia Amary (PSDB), que presidiu a Comissão de Ética. Pior, após a vitória da proposta de Moura, os cinco deputados que a defenderam se retiraram imediatamente da sala, num evidente desrespeito ao Conselho e à Casa, e Souza e Munhoz renunciaram a suas cadeiras no Conselho em forma de protesto.

Foi um dia triste. Uma sessão vergonhosa. Mas agora a decisão do Conselho será encaminhada para votação no plenário, onde a luta contra a impunidade vai continuar!

Agradeço de coração o apoio das milhares de pessoas que me escreveram e assinaram o abaixo-assinado pela cassação de Cury, em particular às minha companheiras do PSOL na Alerj, às deputadas e deputados de outros partidos que me defenderam, e, em particular, ao Vote Nelas (https://www.instagram.com/votenelas/?hl=pt-br), que criou a campanha “Por uma punição exemplar”: https://www.porumapunicaoexemplar.com/#block-36129.

Convido a todas e todos para fazer parte dessa iniciativa e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e livre!

*Isa Penna é deputada estadual em SP (PSOL)

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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