Cadê os meninos? – Por Marcelo Santos

Mais de 100 dias depois do sumiço dos meninos de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, pouca gente lembra ou chora por eles.

Foto: Polícia Civil do Rio de Janeiro (Divulgação)
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Por Marcelo Santos *


Tem mais de 100 dias que os meninos de Belford Roxo sumiram. Lucas, de 8 anos, Alexandre, 10, e Fernando, 11, saíram de casa no dia 27 de dezembro. Nunca mais foram vistos.

Meninos pobres e pretos, a polícia só se interessou em ouvir as testemunhas do caso uma semana após o desaparecimento ser comunicado pela família.

Alguns anos atrás eu escrevi uma matéria para a revista Problemas Brasileiros, uma publicação do Sesc/SP. Sentei diante do delegado Francisco Magano, numa sala da Delegacia de Homicídios e de Proteção à Pessoa, o DHPP. O veterano policial segurava o Código Penal nas mãos e me disse. “É um problema social. Normalmente isso ocorre com pessoas muito pobres, que vivem em lares desestruturados. A maioria dos casos são fugas", disse, enquanto apontava artigos que tratam das questões do abandono material, intelectual e moral. "É claro que há crimes como sequestro e homicídio. Mas muitas vezes acontece de os pais nos procurarem contando uma história e, depois, verificarmos que o menor era maltratado em casa e, por isso, fugiu."

Mais de 100 dias depois, pouca gente sabe dos meninos de Belford Roxo. Já o nome de Henry Borel, o menino que morreu após supostamente ter sido agredido pelo padrasto, o vereador Dr. Jairinho, não sai do noticiário. Até o caso da pequena Madeleine McCann, de Portugal, é mais conhecido popularmente que o dos meninos da Baixada Fluminense. É como se, até quando pensamos em crianças, aceitemos algumas mortes e desaparecimentos, enquanto outros não.

Talvez a gente pense como o dr. Magano e acredite que algumas mortes se resumem a “um problema social”. Mortes que a gente não consegue resolver. Ou “E daí. Lamento. Quer que eu faça o quê?” Já são mais de 100 dias que os meninos de Belford Roxo sumiram.

E a gente nem chora mais.

*Marcelo Santos é jornalista.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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