Uma polarização consolidada, por Aloisio Mercadante

A 3ª via segue sem programa, sem unidade, sem nenhuma liderança capaz de disputar de forma competitiva as eleições

Aloizio Mercadante - Foto: Valter Campanato/Arquivo Agência Brasil
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Por Aloisio Mercadante*

A oito meses das eleições presidenciais, o cenário aponta para uma polarização consolidada entre Lula e Bolsonaro. A 3ª via segue sem programa, sem unidade, sem nenhuma liderança capaz de disputar de forma competitiva as eleições.

Diante do esfacelamento do apoio popular ao seu governo e do avanço da rejeição ao seu nome, Bolsonaro vem tentando, desde o fim do ano passado, uma série de iniciativas visando o pleito de outubro próximo. Mas, medidas importantes como o reajuste de 10% no salário mínimo, o auxílio emergencial de R$ 400, que nada mais é que uma versão piorada do Bolsa Família, e o Vale Gás, que foi uma iniciativa da bancada do PT, não tiveram impacto nas pesquisas de intenção de votos.

Incapacidade de gestão

A verdade é que o negacionismo em relação à vacina, a volta da pandemia, a completa incapacidade de gestão, a estagnação econômica, a inflação de dois dígitos, a elevação do custo de vida – especialmente o custo dos alimentos, dos combustíveis e da energia e a taxa de juros, que é uma das maiores entre as economias desenvolvidas, deixam pouca margem para que Bolsonaro apresente uma melhora econômica relevante para a disputa eleitoral.

Por outro lado, Lula segue construindo uma agenda estratégica para o país e pautando temas de grande alcance. O primeiro, como revelaram as recentes viagens do ex-presidente para o exterior, é a inserção do Brasil no mundo e a capacidade de Lula de tirar o Brasil da condição de pária internacional criada por Bolsonaro. Outro ponto é a reforma trabalhista, a restituição de direitos e a reconstrução dos sindicatos e dos mecanismos de negociação coletiva, como foi recentemente aprovado pelo governo espanhol.

Petrobras

Além disso, Lula tem colocado na pauta a importância da Petrobras para a soberania e o desenvolvimento nacional frente o desmonte de uma empresa que descobriu as maiores reservas de petróleo dos últimos 50 anos.  A Petrobras foi esquartejada e hoje é refém de 400 importadores, que chegam a importar 1/3 do consumo de alguns derivados, impondo uma política de dolarização de preços.

O país precisa retomar uma política estratégica para a Petrobras com foco no investimento no refino e em um sistema integrado de produção, distribuição e comercialização, que gerem ganho e competitividade em relação a outras economias. Depois dos nossos governos, a Petrobras se tornou exportadora de óleo cru e importadora de produtos acabados, pressionando a fortemente a inflação e o custo de vida.

Agricultura familiar

Outra questão é o desmonte do MDA e fim das políticas de apoio à agricultura familiar. O desmantelamento do Pronaf e do PAA comprometeu a área plantada de produtos básicos como arroz, feijão e mandioca. Ademais, o fim dos estoques reguladores aumenta a pressão sobre o custo dos alimentos e aumenta a fome.

Sem falar no esvaziamento do BNDES, a ausência de uma política de reindustrialização do país e de impulso a ciência a tecnologia e a inovação. A política de desmatamento do desgoverno Bolsonaro gera um isolamento profundo do Brasil no concerto das nações. Segundo o Ipam, houve uma explosão do desmatamento em terras públicas federais na Amazônia no governo Bolsonaro. De 2019 até 2021, mais de 32 mil km² de floresta devastadas, 21 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.

O fato é que quem tem um legado portador de futuro, quadros experientes na gestão e na formulação de um diagnóstico preciso sobre os grandes desafios que se apresentam, que se opõe a toda essa barbárie bolsonarista e que é a esperança do povo é o ex-presidente Lula. Por isso, Lula lidera todas as pesquisas e amplia as alianças para a reconstrução do Brasil.

O nosso grande desafio agora é organizar os comitês populares pró-Lula e avançar na composição da federação partidária com o PcdoB, o PSB e o PV. Em seguida, haverá a apresentação do programa de governo e a realização de uma campanha que mobilize, que emocione, que empolgue e que permita que a esperança derrote o ódio, como no passado derrotou o medo.

*Economista, professor, ex-ministro da Educação, Casa Civil, Ciência e Tecnologia, ex-senador e ex-deputado federal