DEBATES

A violência política é um projeto dos conservadores, mas não vão nos calar! - Por Sâmia Bomfim

Eu já sofri ataques que caracterizam violência política de gênero. Gordofobia, divulgação de fake news, ataques a minha vida pessoal e ao meu filho são recorrentes em minhas redes sociais.

Sâmia Bomfim.Créditos: Reprodução/Facebook
Por
Escrito en DEBATES el

Impedir que grupos excluídos socialmente avancem em seus direitos e na demonstração de suas lutas é o principal objetivo daqueles que cometem violência política diariamente. Seja no partido em que atuam ou nos espaços legislativos ou executivos. Vejo essa forma de violência como uma tentativa de impedir ou restringir o acesso de mulheres, pessoas negras, LGBTQIA+ e indígenas aos espaços políticos ou de induzi-las a tomar decisões contrárias à sua vontade.

Mesmo que os alvos sejam esses grupos que citei anteriormente, a maior vítima da violência política, certamente, é a democracia. É antidemocrático tentar apartar qualquer pessoa da participação política. Tentar calar as vozes das e dos oprimidos é cruel e covarde.

Eu já sofri ataques que caracterizam violência política de gênero diversas vezes. Gordofobia, divulgação de fake news, ataques a minha vida pessoal e ao meu filho são recorrentes em minhas redes sociais. Mas se enganam aqueles que acham que me intimidam, continuo resistindo aos ataques, processando os agressores e denunciando as violências sempre que tenho oportunidade. 

O que querem demonstrar com esses ataques? Eles tentam nos dizer que o espaço de poder não é para nós! 

Outra forma de violência política acontece internamente nos partidos quando, por exemplo, as mulheres são lançadas em eleições como candidatas “laranja”, destinadas apenas a preencher as cotas femininas, mas canalizando recursos e visibilidade aos candidatos homens. Como deputada federal e líder do PSOL, atuei frente à Justiça Eleitoral, ainda na preparação das eleições municipais de 2020, para fiscalizar e acabar de uma vez com essa prática vergonhosa. Esperamos, obviamente, que ela não aconteça em 2022.

São Paulo tem vivido anos muito difíceis no avanço do combate à violência política de gênero. No último período eleitoral, partidos como o PSOL elegeram, para os principais cargos do Legislativo no Estado e também na cidade de São Paulo, mulheres, negras e LGTBQIA+. Agora, essas parlamentares eleitas estão vivenciando tentativas de intimidação. 

Durante os primeiros vinte dias do mês de maio deste ano, três parlamentares do PSOL de São Paulo foram obrigadas a mover processos contra a prática de violência política. A deputada estadual Monica Seixas (PSOL) pediu a cassação do mandato do vice-presidente da Alesp, deputado Wellington Moura (Republicanos), por ele ter dito em plenário que iria "sempre colocar um cabresto" na boca dela. Cabresto, segundo o dicionário significa: “arreio de corda ou couro, sem freio ou embocadura e que serve para prender o animal ou para controlar sua marcha”.

A vereadora Luana Alves protocolou uma representação na Corregedoria por fala racista do também vereador Camilo Cristófaro, denúncia acolhida pelo plenário na última terça, 24/5. E, por fim, a vereadora feminista de São Caetano do Sul, Bruna Biondi (Mulheres por Mais Direitos - PSOL), processou e denunciou o vereador bolsonarista que expôs o endereço de familiares dela na tribuna, incitando a violência, em um crime flagrante. 

Se agressores fazem isso com pessoas em espaços de poder, imaginem só o nível de violência que mulheres, pessoas negras e LGBTQIA+ não sofrem cotidianamente em seus espaços de convivência? 

Precisamos dar publicidade a esses casos e dizer ao mundo que nenhuma violência política vai nos calar. Existe uma força sempre despertada em diversos espaços políticos que diz: não tem mais volta. Nós teremos mais mulheres, pessoas negras, indígenas e da comunidade LGBTQIA+ em diversas esferas políticas e isso não retrocederá mais! Os trabalhadores e as trabalhadoras não darão um passo atrás na luta contra o reacionarismo e o fascismo.

Pois a verdade é que as notícias às vezes iludem. Os reacionários estão atacando porque, na verdade, são eles que estão com medo. São eles que se configuram cada dia mais como uma minoria isolada na sociedade, incapaz de impedir o progresso democrático e civilizatório. São eles que perderão as eleições de 2022, indo para a lata do lixo da história junto com Bolsonaro.
Mas essa vitória, é claro, só virá com luta e organização. Temos um desafio diário: não nos intimidar, erguer nossa voz e continuar avançando dentro e fora dos espaços políticos institucionais. Levando a memória das nossas, como Marielle Franco. 

Combater a violência política é um exemplo de combate a outras tantas violências em espaços de maior vulnerabilidade. 
Na próxima segunda-feira, faremos em São Paulo um ato-público contra a violência política de gênero e queremos contar com ampla participação, com a minha presença,  da Monica Seixas, da Luana Alves, da Bruna Biondi e de juristas, ativistas, intelectuais e movimentos.

O evento será na Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito da USP, 30/05, segunda-feira, às 18h. A entrada é gratuita e aberta a todas. Encontro vocês lá!

Sâmia Bomfim é deputada federal (PSOL/SP)