JAIR BOLSONARO

A vergonha eleitoral da burguesia: Tebet e o fracasso final da "terceira via" – Por Felipe Demier

Temendo mais a queda de Bolsonaro do que a sua permanência, a classe dominante brasileira manteve ao longo dos últimos quatro anos a mesma conduta ambígua, e essencialmente timorata, diante de um governo que promoveu uma destruição no país

Créditos: Roque de Sá/Agência Senado
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Adversário mortal da classe trabalhadora, o bolsonarismo também minou significativamente as forças políticas e, por conseguinte, as expectativas da classe dominante. O enfraquecimento político da burguesia em função da elevação das tendências bonapartistas do regime democrático-blindado, sintetizadas pelo bolsonarismo, já pôde ser verificado no processo eleitoral de 2018. Ao longo dos últimos quatro anos, tal dinâmica só fez se intensificar, sobretudo devido à opção política da burguesia brasileira em relação ao governo neofascista. 

Mesmo diante de um genocídio, nossos senhores da Casa Grande acharam que ainda não era o caso de levar a cabo um impeachment, afinal, não tratar-se-ia de algo tão letal quanto uma ou outra pedalada fiscal. Aos olhos da Faria Lima, a responsabilidade criminosa de Bolsonaro não chegava a ser propriamente um crime de responsabilidade. “Em vez de se deixar intimidar pelo poder executivo com a perspectiva de novos distúrbios”, poderia ela, a burguesia, “ter dado à luta de classes uma pequena oportunidade, a fim de manter o poder executivo na dependência. Não se sentiu, porém, capaz de brincar com fogo” (K. Marx, O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Paz e Terra, 1978, p. 87). 

Temendo mais a queda de Bolsonaro do que a sua permanência, a classe dominante brasileira manteve, no fundamental, ao longo dos últimos quatro anos a mesma conduta ambígua, e essencialmente timorata, diante de um governo que, sem pudores, promoveu uma destruição inaudita no país. A cada crítica, quase sempre "econômica”, aos “excessos políticos” do Executivo, por assim dizer, seguia-se um elogio a sua política econômica; a cada repressão as suas aspirações golpistas, tinha lugar um apoio a sua retirada de direitos trabalhistas; a cada condenação a sua pusilanimidade, vinha em sequência o apoio a sua austeridade; a cada queixa altissonante quanto a sua forma, notava-se, contudo, um apoio tácito ao seu conteúdo.  

Ao tentar domá-lo ao invés de castrá-lo, ao preferir persuadi-lo ao invés de derrubá-lo – e Marx já alertara que “quando se tenta persuadir alguém é porque se reconhece ser ele o dono da situação” (K. Marx. Op. Cit., p. 83) –, a burguesia não fez senão enfraquecer politicamente a si mesma, e não é de se estranhar que agora a sua última tentativa de uma “terceira via” não consiga nas pesquisas eleitorais ultrapassar a marca de 1%, se igualando a candidatos figurantes, jocosos ou não. Durante o governo neofascista, o espírito da nossa burguesia esteve sempre cheio de ardor, mas a carne é fraca, e se a taça bolsonarista não podia passar sem que ela a bebesse, foi feita então a sua vontade, tal qual em Mateus.

*Felipe Demier é historiador e professor da Faculdade de Serviço Social da UERJ.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.