OPINIÃO

O Haiti seria aqui – Por Ivan Seixas e Moacyr Oliveira Filho

Nós, que sobrevivemos à tortura da ditadura de 64, provavelmente seríamos pendurados outra vez, não no pau-de-arara, mas em postes. Fomos salvos por um triz. E ainda estamos aqui!

Militares prestam continência a Jair Bolsonaro.Créditos: Divulgação/Palácio do Planalto
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*Por Ivan Seixas e Moacyr Oliveira Filho, ex-presos políticos e torturados no DOI-Codi, em 1972

A revelação do plano golpista contra nossa democracia e contra o nosso povo estarrece pelo caráter terrorista e sanguinário, mas não pode surpreender ninguém. A intenção de dar um golpe de Estado foi anunciada desde antes do delinquente Bolsonaro tomar posse. Muito antes de receber a faixa presidencial, ele afirmava que daria um golpe de Estado e que pretendia arrastar o país para uma guerra civil “para fazer o serviço que o regime militar não fez, que é matar uns trinta mil, pelo menos”.

Como é evidente que os golpistas não tinham nenhum projeto econômico, político e social de país para implantar, coisa que os golpistas de 64 tinham, cabe fazer uma pergunta fundamental nessas horas. O que eles pretendiam fazer ao dar o golpe de Estado e de implantação da ditadura consequente?

Pelas características marginais dos envolvidos na trama golpista é se de supor que o objetivo era a implantação de uma ditadura da delinquência e da bandidagem, onde tudo seria permitido pelos donos do poder. Nesse regime pretendido, a falcatrua, o roubo e a corrupção seriam a regra dos novos poderosos.

Em outras palavras, não haveria lei para os ditadores, pois o STF seria fechado “por um jipe, um cabo e um soldado”. A democracia seria ajeitada para garantir a “governabilidade” por um Congresso repleto de “parlamentares patriotas” do Centrão, afinados com o novo regime.

Para garantir tudo isso, seria necessário ter a força estatal controlada pelos ditadores. O modelo pretendido seria inspirado na ditadura de Francois “Papa Doc” Duvalier, que infernizou o Haiti por décadas com sua milícia de “Tonton Macoute”, que tinha o pomposo nome de Milícia de Voluntários da Segurança Nacional e assustava até o exército daquele país. Era uma ditadura unipessoal, que tinha apelo popular, baseado no terrorismo de Estado. Papa Doc foi sucedido por seu filho Jean Claude “Babi Doc” Duvalier.

Baseado nesse modelo, a ditadura pretendida seria com o “Mito” tomando o papel desempenhado por “Papa Doc”, a “ABIN paralela” fazendo o serviço dos “Tonton Macute” e até uma coleção de “Babi Docs” com os filhos “Zero Um, Zero Dois e Zero Três” para a sucessão do ditador. O ditador haitiano usava a crendice popular do “vodu” e o Mito usaria a força das igrejas-empresas neo-pentecostais, com seus vários pastores bandidos.

Não se trata de um exercício de futurologia, mas de lógica.

Há que se supor que a implantação da “ditadura do Mito” seria um banho de sangue, pois a massa de patriotas revoltados com o comunismo e o petismo não seria saciada “apenas” com a morte do comunista Lula, do revolucionário Alckmin e do tirano Xandão. A turba invadiria e saquearia as sedes de todos os “partidos comunistas” do país, tais como PT, PSOL, PCdoB, PDT, PSDB, etc. Quem estivesse dentro desse “antro de comunistas” seria pendurado em postes pelo país a fora “para dar o exemplo”.

Isso também não é exercício de futurologia, mas de lógica.

Quem seria o Golbery de Bolsonaro? O Delfim Neto de Bolsonaro? O Petrônio Portela de Bolsonaro? Não se sabe.

E quem seria o Ustra da ditadura delinquente? Talvez, ele mesmo. Mas, muitos pretendentes apareceriam, pois o que não falta entre eles é psicopata e candidatos a torturador.

Com tudo isso, pode se imaginar que a ditadura de Bolsonaro seria o império do banditismo. Violento, corrupto, entreguista, mafioso.

Parafraseando a canção de Gilberto Gil e Caetano Veloso, o Haiti seria aqui.

Nós, que sobrevivemos à tortura da ditadura de 64, provavelmente seríamos pendurados outra vez, não no pau-de-arara, mas em postes.

Fomos salvos por um triz.

E ainda estamos aqui!