Um soco no estômago. É assim que muitas pessoas têm descrito a sensação diante do assassinato brutal de Bruna de Oliveira, jovem estudante da USP, cientista dedicada, moradora da periferia, engajada nas lutas sociais e feminista. Sua vida foi ceifada de forma covarde — violentada e morta — por um único motivo: ser mulher.
Crimes acontecem todos os dias, mas este caso abalou profundamente, não só pela brutalidade, mas pelo que ele revela sobre o estado da nossa Segurança Pública na cidade. A dor de uma mãe que declarou à imprensa que “ela morreu exatamente como mais temia”. A dor do pai, dos irmãos, do filho, dos amigos. A mobilização das amigas, que formaram o Coletivo Bruna. Uma morte sem sentido, mas que ganhou significado: Justiça por todas as mulheres!
Este caso nos convoca à luta contra o machismo e, sobretudo, ao enfrentamento da violência contra as mulheres.
Como é possível que, em uma das estações de metrô mais movimentadas de São Paulo, uma mulher seja violentada e assassinada no trajeto de volta para casa? Será que o Conselho de Segurança local, a Polícia Militar, os investigadores, nunca perceberam que aquela região erma de Itaquera sempre foi um ponto cego de segurança? E as minicracolândias, os furtos diários? Alguma vez sequer se debateram esses problemas? Certamente debateram, certamente tem apontado a falta de estrutura e apoio!!!
Não devemos culpar os profissionais da ponta — policiais, investigadores, conselheiros. O problema está no Palácio dos Bandeirantes, no trono de senhor Tarcísio, quem comanda as polícias, é ali que está o cerne da questão.
O problema tem duas raízes: vivemos em uma sociedade estruturalmente machista, que ridiculariza quem denuncia e minimiza a violência contra as mulheres. E, paralelamente, temos uma política de segurança pública frágil, débil e ineficaz, problema de várias cidades do país, mas, em especial, aqui em São Paulo. Tarcísio e Nunes se venderam como os “justiceiros” da extrema direita, prometendo fazer e resolver tudo com força. Mera propaganda barata. Na prática, estão destruindo o que restava da Segurança Pública com uma política cada vez mais violenta, burra e desumana.
Enquanto as polícias forem direcionadas pelo comando do estado, a proteger patrimônio e não vidas, nunca teremos ruas seguras para mulheres — especialmente nas periferias.
Enquanto o foco for em fardas, veículos e armamentos e não um treinamento intensivo em inteligência policial, prevenção e acolhimento, mais vidas serão perdidas.
Enquanto delegacias especializadas continuarem ridicularizando vítimas e a formação policial não for voltada para a proteção da vida, todos estaremos expostos, mas em especial nossas queridas, mães, esposas, amigas, estudantes, meninas, colegas, as mulheres que ficam na linha de frente da insegurança.
É hora de exigir políticas públicas de segurança que funcionem de verdade. Hoje, as polícias estão sendo usadas para reprimir e até assassinar camelôs no Brás, despejar e violentar famílias em ocupações, invadir favelas, cometer chacinas como em Santos e até interromper velórios de pessoas negras e periféricas, como denunciou recentemente o ouvidor das polícias, Claudinho Silva. Enquanto isso, o policiamento de verdade, bem equipado e treinado, é reservado aos bairros mais ricos. Essa é a raiz do problema.
As periferias foram abandonadas. E os policiais que nelas atuam, sem estrutura ou apoio, também são vítimas dessa lógica perversa. Precisamos afirmar, categoricamente, que as polícias não são do Tarcísio, não são da extrema direita, elas são nossas, da população, dos trabalhadores, das estudantes, dos idosos, das crianças. Os agentes de segurança pública servem à proteção da vida da população. Em primeiríssimo lugar, é necessário mudar a lógica das Polícias.
O que está em jogo é a lógica do estado que vê o pobre como inimigo e o rico como alguém a proteger, seja homem ou mulher, mas, em especial, as mulheres.
É hora de dizer basta. Basta de uma política de segurança que serve para caçar pobres e pretos. Precisamos de uma Segurança Pública que proteja vidas como a de Bruna. Que seja um serviço público, e não uma guarda privada de bairros ricos. A esquerda precisa dizer isso com clareza. Precisamos ocupar os Conselhos de Segurança, nos territórios. Nossos parlamentares precisam assumir essa pauta, porque segurança também é um direito e a população está clamando por isso... Daí surgem os boçais de extrema direita, que navegam no assunto, por que nós da esquerda nos negamos a assumir a segurança pública e direito à vida, como nossa pauta!!! Precisamos parar de fugir, essa pauta é nossa!!!
Bruna só queria voltar em paz para casa. Foi-lhe negado o direito à vida, e, mais do que isso, o direito à segurança humana. Que o grito ecoe alto: Justiça por Bruna, pelo fim do machismo e por mais segurança nas ruas.
*Mateus Muradas é poeta, integrante do Fórum Social da Zona Leste e conselheiro municipal de políticas urbanas.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.