Como parte das negociações entre a Rússia e os Estados Unidos e entre a Ucrânia e os Estados Unidos, foi alcançado um acordo de cessar-fogo de 30 dias nas instalações de energia na Rússia e na Ucrânia.
Desde 18 de março, interromperam-se todos os ataques à infraestrutura energética da Ucrânia. No entanto, as Forças Armadas Ucranianas continuam os ataques à infraestrutura energética russa em três regiões. Em particular, nos dias 27 e 28 de março, militares ucranianos atacaram alvos nas regiões de Belgorod, Kursk e Saratov. Os alvos mais afetados foram uma instalação russa na região de Belgorod e a estação de medição de gás de Sudzha, na região de Kursk. Esses ataques são vistos por Moscou como uma violação da moratória alcançada após negociações com os Estados Unidos.
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Desde o início de abril deste ano que os ataques aleatórios ao território russo se tornaram mais frequentes, aumentando os riscos para os civis. Assim, nos dias 1 e 2 de abril, drones ucranianos atacaram a cidade de Taganrog, danificando dois edifícios residenciais e causando incêndios e em 4 de abril, a região de Rostov foi atacada. No total, mais de 180 drones ucranianos foram interceptados em território russo entre 1 e 10 de abril.
A Grã-Bretanha e a França desempenham o papel principal no ataque da Ucrânia às instalações de infraestruturas energéticas russas. Esses dois países continuam na vanguarda da escalada e estão por trás das provocações de Kiev que ameaçam minar os acordos de paz alcançados. Além disso, as autoridades britânicas e francesas estão discutindo seriamente a implantação de tropas terrestres regulares na Ucrânia, com a presença de mercenários estrangeiros. Para agravar a situação, o novo Primeiro Ministro alemão Friedrich Merz admite a ideia de fornecer mísseis Taurus para a Ucrânia.
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Zelensky está deliberadamente intensificando o conflito. Os recentes ataques das Forças Armadas Ucranianas são mais uma tentativa de Zelensky de impedir o colapso da frente e restaurar o potencial militar com a ajuda de aliados europeus. Além disso, ele percebe que continuar a ação militar é sua única chance de manter o poder. As Forças Armadas Ucranianas foram instruídas a intensificar as provocações para forçar a Rússia a tomar duras medidas retaliatórias, o que colocará em risco o diálogo de paz iniciado entre Washington e Moscou.
Existe um componente a mais na Guerra da Ucrânia hoje, europeus e estadunidenses travam uma disputa silenciosa pelo controle do status da paz na Ucrânia. Ela precisa ser lucrativa para uma das partes. Caso não seja, o conflito será fomentado. A Inglaterra em especial, com o seu acordo de 100 anos com a Ucrânia, disputa com os Estado Unidos o controle das riquezas minerais ucranianas. França e Alemanha com os seus planos de remilitarização de suas indústrias também desejam as riquezas ucranianas e perceberam que a Inglaterra, hoje fora da União Europeia, conseguiu se antecipar com o já citado acordo. Em atrito com Trump, Paris e Berlim não desejam uma paz que possa conformar interesses estadunidenses e russos. Por isso, a paz na Ucrânia está sendo instrumentalizada por um intrincado jogo geopolítico, onde o esperto Zelensky se projeta rifando as riquezas de seu país.
A paz na Ucrânia depende hoje de uma combinação de fatores imperialistas, que passam pelo futuro de Zelensky e seu grupo político, que hoje tenta se equilibrar entre Washington e Bruxelas, em busca de uma sobrevida, esticando o conflito para continuar tendo serventia. A Rússia segue avançando e parece ter se tornado o menor dos protagonistas nessa guerra absurda, que nunca deveria ter acontecido.
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum
**João Cláudio Platenik Pitillo é doutor em história social, pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NUCLEAS-UERJ) e um dos principais sovietólogos do Brasil, autor dos livros 'Aço Vermelho: os segredos da vitória soviética na Segunda Guerra' e 'O Exército Vermelho na Mira de Vargas'