Contam nossos historiadores que a origem do samba paulista vem do Samba de Bumbo de Pirapora. De lá pra cá, o samba evoluiu, novos personagens foram se aglomerando e se incorporando até chegarmos ao que estamos hoje.
Quem dos mais velhos não se lembra dos desfiles das décadas de 50, 60, 70, Rua Direita, Vale do Anhangabaú, Avenida São João, Marechal Deodoro, Avenida Tiradentes, todas em São Paulo. Foi nesse espaço, no ano de 1973, que tudo começou a mudar.
Com a transformação dos cordões em escolas de samba, para terem um novo modelo de organização, com regras nos desfiles de São Paulo, nessa década surgia também a Sociedade Rosas de Ouro, da Brasilândia, que não é uma escola de samba, e sim representante dos antigos desfiles das grandes sociedades.
Abordo tudo isso para chegar ao momento atual do que foi a composição dos desfiles do grupo especial de São Paulo de 2025. Com suas contradições: nesse desfile, tivemos sete agremiações de origem das escolas de samba, quatro de blocos, (Gaviões, Mancha Verde, Dragões e Mocidade Alegre), duas de origem de cordões, (Camisa e Vai Vai), uma de origem das grandes sociedades (Rosas de Ouro), a grande campeã de 2025. No resultado final, também tivemos um equilíbrio nos desfiles das campeãs: Rosas, (sociedades) Tatuapé (escolas) Mocidade e Gaviões (blocos) Camisa Verde (cordões).
Então, o título acima: “Pra falar de escola de samba, é pra quem foi, não pra quem é”, visa entender o “balaio de gatos, que não viraram tamborim”. Quem foi, antes de 73, com as escolas de samba originais, e quem é, o modelo atual. Quem foi: as batucadas tinham origens, baseadas nos toques dos Orixás, cada escola tinha seu padrão e, de longe, conhecíamos e sabíamos “quem vem lá” pelas batidas das caixas, do surdo e do tamborim. Eram as suas identidades.
Assisti, durante o período desse Carnaval, alguns vídeos explicativos do Mestre Divino, e sua sutileza em mostrar seu ateliê de instrumentos, e falar a origem de cada um, esse era do meu tempo. Tenho notado que, nas batucadas de agora, tudo parece igual, só se diferem pelas bossas (passagens). Não temos mais identidade! A Nenê, que era nosso modelo de batucada da Zona Leste, já não é mais, mudaram tudo. Não temos mais a satisfação de ir na Vila, para assistir aquela batucada antiga, cheia de viradas no surdo, a métrica do surdo de corte, que, até agora, poucos sabem qual era, o repicar dos tamborins, uma maravilha de se ouvir. Mas, tudo mudou! E aqui não culpo quem mudou, mas, sim, quem deixou mudar. A Vila era nosso exemplo e orgulho de nosso samba aqui na Zona Leste. Foi lá que aprendi como ser um bom diretor de harmonia e quais as responsabilidades. Quem não se lembra do Lobisomem, a Rosa, o Canhoto, o Macalé, a Tuquinha e tantos outros que se foram e que deram o sangue pela “escola”. Para nossa sorte, ainda podemos matar nossa saudade lembrando de tudo isso, com a “Batucada de Nego Veio”.
Por isso, depois de todo esse relato, faço uma pergunta para falar de escola de samba: É pra quem foi ou pra quem é? Pois vejo hoje muita gente falando “no meu tempo”, mas qual era o tempo dele, era antes de 1973 ou era depois de 1973? Era o tempo dos cordões e blocos ou tempos de escola de samba? Aí, eu vou concordar com o Junior do Peruche: “Pra tudo tem tempo”.
Eu sou do tempo antigo. Vocês se lembram do “Lilico”? “Tempo bom, não volta mais”.
*Gilson Negão é da Velha Guarda, Embaixador do Samba e Cidadão Paulistano.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.