DEBATES

Caiado pré-candidato e os títulos de cidadão goiano a Gilmar Mendes, Toffoli e Gonet – Por Frederico Assis Brasil

Um verdadeiro horror, em plena sexta-feira 13, na Assembleia Legislativa de Goiás. Mas tudo tem uma explicação

Ronaldo Caiado concedendo títulos de cidadania aos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, e ao PGR Paulo Gonet.Créditos: Assembleia Legislativa de Goiás/Reprodução
Por
Escrito en DEBATES el

Sob gritos de "É Presidente", destinados ao governador Ronaldo Caiado, receberam o Título de Cidadania Goiana em uma horrorosa sexta-feira 13, na Assembleia Legislativa de Goiás, três proeminentes autoridades da República: os ministros do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes e Dias Toffoli, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. Tal arranjo é estranho, porque não há nenhum vínculo histórico dessas autoridades, diretamente, com o Estado. Trata-se, na verdade, de uma estratégia dos aliados legislativos de Caiado, que discursou na homenagem, de posicionar a figura do governador para a alta cúpula do Judiciário, como o nome mais palatável da direita para assumir a Presidência, caso se consolide a tendência de vertiginosa queda da popularidade de Lula, o que abriria espaço para um candidato mais alinhado com o desejo bolsonarista de suprimir o Supremo. 

Essa iniciativa permite também a Ronaldo simular uma postura de estadista presidencial, que respeita a harmonia e interdependência entre os poderes, o que está longe de ser verdade, já que o seu governo tem sido marcado pelo coronelismo clientelista no trato com judiciário e legislativo estadual. A solenidade pode ser vista também como uma tentativa de cooptação dessas autoridades nacionais para ambicioso projeto de poder do caiadismo no Brasil. A importância para Caiado, demarcar o gado no Supremo e PGR, se deve ao fato de que as autoridades contempladas com o título, são muito associadas ao lulopetismo.

Dias Toffoli foi indicado por Lula para o cargo de ministro dentro das suas prerrogativas presidenciais em 2009. Mas antes disso, já havia atuado como advogado geral da União no governo Lula II e, em 2002, tendo sido assessor jurídico da campanha de 2002, a primeira vencida pelo atual presidente. Já Gilmar Mendes, apesar de ter sido indicado pelo FHC, foi responsável por anular em 2021 os processos de Sérgio Moro, Operação Lava Jato, envolvendo Lula, que voltaram à estaca zero, e ter concedido medida cautelar em 2022 para suspender a cobrança de R$ 18 milhões em impostos feita pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por fim, Paulo Gonet, foi o escolhido pelo presidente petista (na lista tríplice) para processar os já considerados párias de 8 de janeiro de 2023.

Um objetivo mais tácito dessa opulenta pajelança de títulos de cidadania goiana, parece ser o de barganhar pela não federalização do Caso Jorge Caiado, que colocou o sobrenome do governador na cena do crime contra Fábio Escobar. Diversas entidades de direitos humanos goianas, inclusive ligadas ao PT local, tentaram sensibilizar o procurador-geral Paulo Gonet para que a Súmula 45 do STF fosse aplicada ao caso, seguindo o exemplo do que ocorreu nas investigações do caso Marielle Franco. Como o Ronaldo Caiado tem o judiciário goiano no cabresto, há um risco de que, se federalizado a investigação, o seu primo Jorginho venha a ser preso e, até que o próprio Ronaldo, seja indiciado, por suposta conivência e prevaricação com o assassinato do dissidente do seu ex-partido, o DEM, que fizera estardalhaço na internet sobre supostos crimes eleitorais na campanha do governador nas eleições de 2018.

A deputada estadual Bia de Lima (PT),  3ª vice-presidente da Mesa Diretora da 21° Legislatura da Assembleia Legislativa de Goiás, também prestigiou, mesmo que de forma protocolar, esse importante marco para o caiadismo se tornar a direita "paz e amor" no Brasil. Talvez, ela nem tenha previsto que o nome de Lula ficaria de fora dessa festa solene, e a depender da receptividade da sua tropa de choque no Supremo e na Procuradoria Geral ao projeto de Caiado, poderá ficar de fora também do Palácio do Planalto em 2027. Enquanto isso, na roda do Roda Viva, dia 9 de junho, Caiado conjugou verbos no presente se referindo ao que fará, caso seja eleito, como se já tivesse sido eleito: "Eu exerço prerrogativa de presidente pra anistiar...", falando sobre o tratamento condescendente amplo e irrestrito que dará aos supostos responsáveis pelos atentados de 8 de janeiro.

*Frederico Assis Brasil é professor Urbanidade na UFSJ, com doutorado no Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da UFRJ e idealizador do Oposição com Liderança.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar