Asfixiado, Brasil precisa levantar para derrubar o facínora, por Kerison Lopes

Para quem não sabe, a ditadura que inspira Bolsonaro não foi derrotada com o Instagram. Teve movimento na rua, luta armada, guerrilha e muita coragem.

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Por Kerison Lopes *

O que acontece em Manaus é o sucesso da política do governo Bolsonaro. Nenhum presidente teve tanto êxito em implementar o que planejou. Bolsonaro conseguiu. Do pico de sua atrocidade, ele observa o país derreter, as pessoas morrerem sufocadas e indiferente à dor levanta seu capuz de facínora – inspirado na perversão dos seus ídolos torturadores – olha no espelho e diz: "Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra", com um sorriso no canto da boca.

A impossibilidade de respirar é das maiores agonias que um ser humano pode passar. Além do inimaginável sofrimento físico, a asfixia é o prenúncio de uma morte iminente. Por isso, a asfixia foi muito usada nas torturas praticadas pela Ditadura Militar brasileira idolatrada por Bolsonaro, com prática de estrangulamento, afogamento e sufocamento com saco plástico.

Nos últimos dias, brasileiros, principalmente manauaras, foram submetidos à tortura do sufocamento. Contaminados por uma pandemia que devasta o país, foram abandonados pelo poder público, que lhes tirou o oxigênio, e assim estão sendo assassinados pela tirania de um genocida que tomou o poder central, apoiados por brasileiros que enxergam em Bolsonaro um espelho para perversidade que escondiam. 

Com uma pandemia fora de controle, o Brasil vive uma tragédia de morte anunciada. Mas ninguém pode acusar Bolsonaro de ter praticado estelionato eleitoral. Toda sua campanha, e trajetória, com veneração aos assassinatos e torturas da ditadura, sua obsessão por armas, foi fundamentada na palavra morte.

Seu governo é estágio mais avançado da necropolítica, que antes era praticada nos porões da tortura e agora virou política oficial de Estado. Diferente da ditadura, baseada na eliminação de adversários políticos, o necropoder de Bolsonaro adquiriu com a pandemia a capacidade genocida em larga escala.

As atrocidades do governo já não surpreendem, mas é surpreendente o silêncio da maioria da nação. Naturalizamos completamente a morte diante dos nossos olhos. As instituições do país acompanham impassíveis o genocídio ao qual estamos submetidos.

A desgraça que acontece em Manaus despertou uma nova indignação, pelo menos entre os setores que prezam pela vida. O Coletivo Alvorada está organizando um “Barulhaço para parar Bolsonaro”. Tem uma carreata marcada para sair dos arredores do Mineirão neste sábado e rola uma convocação para um panelaço hoje à noite.

Podem ser movimentos incipientes, mas não dá mais pra ficar parado. Temos que pressionar o Congresso, que tem engavetado vários pedidos de impedimento do presidente da República em função do tratamento que deu à pandemia.

Para quem não sabe, a ditadura que inspira Bolsonaro não foi derrotada com o Instagram. Teve movimento na rua, luta armada, guerrilha e muita coragem. Brasileiros foram torturados e mortos durante mais de duas décadas de obscurantismo para que você pudesse votar.

Já passou da hora de agir. Nem que seja pra que possamos prestar contas às futuras gerações, como sugeriu o jornalista Antônio Prata hoje: “O futuro vai olhar para nós como olhamos para os alemães que permitiram o holocausto. “Mas eles não fizeram nada?”. 

Isso, claro, se tivermos a sorte de não entrarmos nas elásticas estatísticas das mortes do governo Bolsonaro.

*Kerison Lopes é presidente da Casa do Jornalista de Minas Gerais, ex-presidente da UBES e do Sindicato dos Jornalistas e fundador do Bloco Volta Belchior.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.