Bolsonaro para os pobres: ressentimento, ódio e violência – Por Normando Rodrigues

Compor frases com “judeu”, “comunista”, “negro”, “mulher”, “petista”, “índio”, “homossexual” ou “pobre”, dá rigorosamente no mesmo. Guedes escolheu “pobre”, porém o sentido final não se altera

Foto: Agência Brasil
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Por Jorge Normando Rodrigues *

Judeu

Imagine um governo hipotético, com certo “superministro” da Economia responsável por temas antes divididos entre ministérios do Trabalho, Planejamento, Indústria e Fazenda.

Agora se entregue ao pesadelo de ter ouvido desse supragerente, o seguinte:

- Com dólar baixo, qualquer judia viajava pra Disney!

- Tem que acabar com as verbas constitucionalmente destinadas à educação dos judeus!

- Judeu? Está doente? Dá um voucher pra ele. Quer ir no Einstein? Vai no Einstein. Quer ir no SUS, pode usar seu voucher onde quiser.

- Todo judeu, agora, quer viver 100, 120, 130 anos. Assim, não dá!

- Esse programa (FIES) deu bolsa pra judeu que não tinha a menor capacidade. Não sabia ler e escrever.

- As universidades dos judeus estão ensinando sexo pra criança de 5 anos. Todo mundo na maconha, bebida, droga.

- É um absurdo filho de judeu ir pra universidade!

Universal

Até aqui, estamos no imaginário. Para ingressar na realidade substitua a palavra “judeu” por “pobre”, nas frases acima.

Se as locuções com “judeu” te causam mais indignação do que as equivalentes com “pobre”, há algo de muito errado com você, seja qual for sua etnia, religião, ideologia, classe social, gênero, orientação sexual, região ou nacionalidade.

Compor as frases com “judeu”, “comunista”, “negro”, “mulher”, “petista”, “índio”, “homossexual” ou “pobre”, dá rigorosamente no mesmo. Guedes escolheu “pobre”, porém o sentido final não se altera.

Fascismo

A ideologia a que pertencem as frases acima se chama “fascismo”, nasceu há cem anos na Itália e não tem nada da “modernidade” que Bolsonaro e Paulo Guedes prometem.

O fascismo se propaga ao conseguir transformar ressentimentos em ódio, e o ódio em violência. Para isso precisa de um “inimigo” a ser combatido pelos “patriotas”.

Na Itália de Mussolini o “inimigo” era a esquerda. Na Alemanha de Hitler, eram a esquerda e os judeus. No Brasil de Bolsonaro, são a esquerda e os “pobres”.

Economia

Engana-se quem acha que as políticas econômicas da Itália e da Alemanha fascistas, antes da 2ª Guerra, foram diferentes das do governo fascista do Brasil de hoje.

Mas Bolsonaro e Guedes têm uma grande vantagem sobre os antecessores. Não precisam gastar dinheiro com câmaras de gás. Basta deixar morrer de Covid-19.

Quanto à sua imaginação, use-a agora para refletir sobre o que você pode fazer a respeito.

*Jorge Normando Rodrigues é assessor jurídico do Sindipetro-NF e da FUP.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.