Como se movimentar pela democracia e contra o genocida – Por Maria do Rosário

Os movimentos sociais que se aglutinam em torno do “Fora Bolsonaro” chamarão uma grande jornada de manifestações para as próximas semanas e é sob suas bandeiras que estaremos engajadas

Maria do Rosário - Foto: Câmara dos DeputadosCréditos: Câmara dos Deputados
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Por Maria do Rosário *

A vociferação de Bolsonaro revela o quanto ele está isolado. Falando para uma base cada vez mais radicalizada e menor, desidrata em apoios após o 7 de setembro. São diversos os setores políticos, econômicos e sociais que saíram de uma posição favorável para uma posição crítica ao governo. Quem ainda não o fez, está em processo, pois não pode dar uma guinada muito brusca.

A tentativa criminosa de fechar estradas e obstruir a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, trará uma conta importante, logo ali na frente. Primeiro, uma conta legal, já que haverá denúncias por parte do Ministério Público e consequente responsabilização dos que estão executando tais ações, facilmente identificáveis através da exposição em redes sociais e do mapeamento das placas dos caminhões desses criminosos. Segundo, uma conta simbólica, pois, com o preço do diesel lá em cima e o preço pago pelo frete lá embaixo, caminhoneiros autônomos e empresas de transportes idôneas estão indignados com as ameaças e pedradas que seus veículos estão sofrendo pelas hordas bolsonaristas. Murcha, cada vez mais, a narrativa do Genocida.

Muitos questionam, compreensivelmente angustiados, como enfrentar o golpismo de Bolsonaro. A melhor maneira de enfrentar este comportamento é recolocar o debate no ponto central: a difícil situação que vive o país e seu povo. Os preços estão nas alturas. A carne já não frequenta a mesa dos brasileiros, a fome ronda e o desemprego é realidade. Quem está empregado só perde renda, pois não existem reajustes neste tempo de enorme inflação.

A questão da insegurança e da violência não foi resolvida, a saúde e a ciência foram negadas por Bolsonaro, sem falar em seu desprestígio com a educação brasileira. A única alternativa que tem Bolsonaro é falar em golpismo para que nos esqueçamos de tudo o que ele fez para piorar a situação do país. Vamos falar nitidamente: Bolsonaro é um incompetente e Paulo Guedes, seu parceiro de jornada, só mira em destruir direitos com o seu neoliberalismo predador.

As maldades não ficam só por aí. Lembremos que os efeitos da crise hídrica e energética só estão por começar em mais um caso de omissão para evitar um possível e indesejável apagão, neste governo de desmatamentos e queimadas. Além disso, a CPI da Covid (580 mil mortos!) em breve apresentará seu pesado relatório que evidencia os desvios e omissões na crise da Pandemia. É hora de recolocar o debate no devido lugar, sem perder o curso das manifestações populares contra o Bolsonaro.

Esse ir para a rua deve continuar tendo em mente o nosso programa de país, por um Brasil com soberania, direitos e renda para o nosso povo. Assim, é impossível para nós, lutadores populares, sairmos neste domingo junto com MBL e outros movimentos que deram o Golpe contra Dilma, que contam com um programa neoliberal de privatizações e Estado Mínimo. Foram esses os atores que rasgaram a Constituição e afastaram uma presidenta legítima, mulher honrada, criando o estado de coisas que ora vivemos. Os movimentos sociais que se aglutinam em torno do “Fora Bolsonaro” chamarão uma grande jornada de manifestações para as próximas semanas e é sob suas bandeiras que estaremos engajadas.

Até lá, sigamos sem medo ou pudor de afirmar a falência do projeto político do Bolsonarismo e nosso anseio pela mudança dos rumos do país. Não há discurso golpista que sobreviva a uma conversa sobre o preço do supermercado ou sobre a falta de perspectiva de futuro para toda uma geração de jovens da Nação.

A luta pelo afastamento de Bolsonaro segue. Aliás, foi o PT o primeiro a se manifestar com este sentido e quaisquer críticas a Lula ou à esquerda de que a permanência de Bolsonaro favoreceria a manutenção da polarização é uma falácia dos que querem, sedentos, a viabilização de uma terceira via. Ora, que alternativa é essa da terceira via, se seu programa econômico e social é exatamente o mesmo de Bolsonaro? O problema dessa turma é que estavam casados com Temer e Bolsonaro até agora e, por pura conveniência, querem se afastar para limpar suas barras.

Ora, nós sabemos o que vocês fizeram “no verão passado”, da Reforma Trabalhista à Reforma da Previdência, do congelamento de investimentos públicos ao arrocho salarial. Querem lutar pela Democracia, bem-vindos, mas venham sem subterfúgios! A sociedade precisa, urgentemente, não só afastar Bolsonaro, mas de um projeto de Nação radicalmente diferente deste que vocês inauguraram lá quando questionaram a vitória de Dilma para defender o “ilibado” Aécio, construindo a semente do Golpe de 2016.

*Maria do Rosário é deputada federal (PT-RS).

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.