Golpe de 2016: cinco anos de retrocessos – Por José Guimarães

São cinco anos de retrocesso e desesperança. Os golpistas deveriam pedir desculpas ao Brasil. O país não aguenta mais dois anos de desgoverno Bolsonaro – talvez seja tarde demais tirá-lo em 2022

Foto: EBC
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Por José Guimarães *

Há exatamente cinco anos, no dia 17 de abril de 2016, ocorreu no Brasil o maior atentado à democracia desde o Golpe Militar de 1964. Aquele dia em que a Câmara abriu processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff será para sempre uma data infame, um golpe sustentado por uma farsa chamada de “pedaladas fiscais”, tese criada por quem não se conformava com o resultado das eleições de 2014.

E o Brasil sofre hoje as consequências danosas do golpe político, midiático e judicial contra a democracia e a soberania popular. Sem crime de responsabilidade, Dilma devia ter completado seu mandato. Cinco anos depois, não há nenhum processo contra ela, uma mulher golpeada por suas virtudes: honestidade e integridade. Foi apeada do poder por não aceitar chantagens.

O Brasil foi jogado num modelo neoliberal – primeiro com Temer, depois, com Jair Bolsonaro, que foi eleito no contexto de condições artificiais criadas pelos golpistas – encomendado para contrariar os interesses nacionais, retirar direitos da população, depredar a Amazônia e rifar as riquezas nacionais. Uma sucessão de retrocessos em cinco anos.

Desenvolvimento com justiça social – Com Dilma, o Brasil tinha um modelo de desenvolvimento elaborado pelo Partido dos Trabalhadores, com os interesses nacionais e do povo brasileiro acima de tudo. O Brasil tinha pleno emprego, a gasolina custava R$ 2,80 o litro, o gás de cozinha R$ 40 e o salário mínimo subia acima da inflação.

Mas seu mandato foi sabotado por pautas-bombas no Congresso Nacional, conglomerados de comunicação distorciam o noticiário para incutir na sociedade a ideia de caos. A sabotagem interna inviabilizou iniciativas para atenuar os efeitos da crise mundial, num momento em que havia queda do preço das commodities, redução do crescimento da China, disparada do dólar devido ao fim da expansão monetária praticada pelos Estados Unidos, queda dos preços internacionais do petróleo.

A máfia de Curitiba agregada em torno da tal “Operação Lava Jato” deu contribuição decisiva para a criação de um cenário de fim do mundo.

Mentiras neoliberais – Deram o golpe com o argumento de que a economia iria deslanchar com “reformas”, como as da previdência e a trabalhista. Diziam que o modelo da Dilma/PT estava errado, que tudo ia entrar nos eixos, com mil maravilhas vendidas. E cinco anos depois, tudo piorou. Desemprego em massa, caíram as taxas de investimento público e estrangeiro, o preço dos alimentos disparou, o salário mínimo foi achatado, a fome ressurgiu no Brasil.

Temos hoje 14,2 milhões de desempregados e 32 milhões de pessoas no subemprego. Como sempre, o discurso neoliberal não se sustenta, as promessas evaporaram e direitos dos trabalhadores e da classe média foram suprimidos.

O Brasil atualmente está sob um governo incompetente, negacionista e insensível à dor da população, não só pelas 370 mil mortes por Covid-19 provocadas por responsabilidade de Jair Bolsonaro, mas também em relação ao descalabro social, resultado do desastroso modelo ultraliberal do ministro Paulo Guedes, seguidor do ditador chileno Augusto Pinochet, cujo ideário já foi sepultado pelo povo do Chile.

Com Bolsonaro, o capitão-presidente eleito a partir das condições criadas pelo golpe de 2016, o Brasil apareceu de novo no Mapa da Fome das Nações Unidas. Cerca de 100 milhões de pessoas estão subalimentadas, o número de miseráveis triplicou nos últimos seis meses, saltando de 9 milhões para 27 milhões de pessoas. E não é culpa da pandemia: esse quadro já vinha se conformando antes da Covid-19, pois o modelo Bolsonaro/Guedes é exclusivamente pró-capital.

Fome de volta – Se com o PT o Brasil alcançou o sexto lugar no ranking das maiores economias mundiais, o golpe fez o país retroceder: hoje, ocupa a 12ª posição entre as maiores economias do mundo. E mais: Em 2020, o país ficou em 21º lugar no ranking de crescimento econômico de 50 países, feito pela agência de classificação de risco Austin Rating. O real também foi uma das moedas que mais perdeu valor em 2020: caiu 22,4% em relação ao dólar no ano passado, o sexto pior desempenho em uma lista de 121 países.

A democracia brasileira, se hoje agoniza e sofre, é consequência do golpe. Produziu-se este monstro que o Brasil está vivendo. O governo Bolsonaro é antidemocrático, incompetente, incapaz de fazer a gestão política do país. Não sabe governar, ocupa-se o tempo todo com mentiras e fake news para provocar o Supremo Tribunal Federal e outras instituições da República. Um presidente que vive no mundo da ficção do WhatsApp e das redes digitais, enquanto o Brasil afunda num atoleiro econômico e social. Um governo desumano e cruel com as famílias brasileiras.

São cinco anos de retrocesso e desesperança. Os golpistas deveriam pedir desculpas ao Brasil.

O país não aguenta mais dois anos de desgoverno Bolsonaro – talvez seja tarde demais tirá-lo em 2022, tempo muito longo para a permanência de um governo que pratica uma política de terra arrasada e joga o Brasil no fundo do poço. Tanto que é a única grande economia do mundo em plena desaceleração está à beira da bancarrota. Virou um pária mundial, ninguém mais o respeita, pois é dirigido por um governo tresloucado que não sabe construir nenhuma relação com o mundo.

O golpe produziu tudo isso. Desespero. Desesperança. Produziu um governo genocida, antipopular e antinacional que trouxe a fome e o caos.

Não há outro caminho. Impeachment de Bolsonaro já!

*José Guimarães é deputado federal e vice-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.