O Brasil precisa, urgentemente, se ver independente das igrejas. Não é um caso de vida ou morte. É somente um caso de morte. Foi assim desde o começo, quando o “ato inaugural” de um país foi uma missa, como se os povos indígenas que aqui estavam não tivessem uma religião válida e verdadeira. A primeira missa no Brasil foi um estupro religioso. Uma violência da fé. A partir dali se legitimava, em nome de “deus” as mais terríveis barbáries.
Durante os anos de religião oficial, com a benção do Papa sobre o Império, a opressão e a perversidade continuaram, com a igreja abençoando a escravização dos índios e negros, sob o argumento de que não tinham alma (a não ser que, mais tarde, se convertessem). A reificação (ou coisificação) de pessoas tem a chancela maligna da Santa Sé e a subserviência interesseira de um Estado escravocrata, branco, patriarcal e metido a “civilizado”.
Tenho falado sempre uma coisa, e sempre é bom ressaltar: Não há como dissociar a política da religião. Somos seres religiosos (aqueles que têm religião) e políticos. Isso nos compõe. Mas precisamos, urgentemente, separar a Igreja do Estado. Essa, por incrível que pareça, foi a luta dos protestantes que chegaram no Brasil em meados do Século XIX, tendo inclusive vários templos derrubados e queimados pelos representantes da religião oficial.
Portanto, é realmente absurdo e inimaginável que, agora que alcançam proeminência na sociedade, esses mesmos protestantes (principalmente batistas e presbiterianos envolvidos até o pescoço com o projeto bolsonarista de “cristofascismo”) sejam os primeiros a jogar no lixo a sua história de luta por um Estado verdadeiramente laico. São mestres da incoerência, fariseus modernos, senhores absolutistas e medievais.
Portanto, hoje, 07 de setembro, é mais que necessário gritar por uma independência do Estado em relação às Igrejas no Brasil. Não queremos uma teocracia. Qualquer que seja. Vale aqui o brado “Deus nos livre de um Brasil evangélico!”
E é caso de “Independência ou morte” mesmo. Porque esse “evangelho” que ganha espaço cada vez mais em nosso chão, que nada tem a ver com o Evangelho de Cristo, é uma mensagem de morte e destruição do diferente, daquele que professa uma outra fé, daquele que tem uma orientação sexual diferente do heteronormativismo vigente, que defende a morte de muitas mulheres às quais é negado o direito de acompanhamento do Estado na realização de um aborto, que aplaude a violência do Estado contra a juventude negra, em nome de uma suposta “guerra às drogas”. É um “evangelho” genocida, perverso, mau. Nada de “boas novas”. Tudo de intolerância e ódio!
O Estado verdadeiramente laico talvez seja hoje uma de nossas maiores necessidades. Não dá pra esperar. É a vida de muita gente em jogo, em nome de “deus” e de seus mercenários empresários da fé. É preciso lutar para tirar desses tiranos e exploradores da fé alheia o seu poder.
Ou nos livramos do poder da Igreja sobre o Estado, ou muito sangue ainda será derramado para aplacar a “ira divina” desse “deus” sanguinário e mau adorado por tantos “cidadãos de bem”.
Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!
*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum