Insensatez de Doria e a equivocada volta às aulas, por Emidio de Souza

"Doria precisa entender que, se levada adiante essa proposta, ele será responsabilizado pelas consequências. Não é hora de aglomeração. Nós não podemos arriscar"

João Doria (Foto: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo)
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Por Emidio de Souza*

A decisão de um governante nessa pandemia pode definir a vida ou a morte de milhares de pessoas. Não dá para aceitar que as decisões que possam selar o destino de milhões de pessoas sejam tomadas sem levar em conta conhecimentos médicos e científicos e, claro, sem ouvir aqueles que serão afetados pela medida.

Infelizmente é exatamente isso que alguns agentes políticos têm feito no país. Em São Paulo, o governador João Doria é o principal deles.

No dia 24 de junho, um dia depois do Estado de São Paulo bater recorde de mortes por Covid-19 com 434 óbitos, o governador convocou uma coletiva de imprensa para anunciar a retomada das aulas presenciais no Estado, marcada para o dia 8 de setembro.

Essa é uma irresponsabilidade que beira o absurdo. Defendo que as escolas devem retomar as atividades presenciais somente quando houver uma drástica redução dos números de mortes e contaminações. Além disso, é preciso garantir que as unidades educacionais disponham de segurança sanitária para estudantes, professores, funcionários e suas famílias.

Hoje, mais de mês depois desse anúncio, o Estado continua sendo o epicentro da pandemia no país e Doria segue brincando com a vida das pessoas. Em Osasco, por exemplo, o número de contaminações já passou de 10 mil e mais de 600 vidas foram perdidas. E mesmo assim, o governador não se dá ao trabalho de pensar nas consequências desse equivocado ato. E, percebendo que a situação não melhora, decidiu rever os parâmetros que foram criados por ele mesmo. Na segunda-feira (27), o governador anunciou uma nova flexibilização que aumenta a chance das escolas retomarem as aulas no mês de setembro.

Isso é lamentável. No atual quadro, a retomada das aulas só vai potencializar a ação do vírus. O governador não pode abrir as escolas de São Paulo e colocar em risco a vida de milhares de crianças, adolescentes, jovens, professores e a comunidade escolar geral. Ele não deve ceder a interesses econômicos e eleitorais em detrimento da vida.

Muito pais de alunos de Osasco e região têm procurado o meu gabinete para demonstrar preocupação com a consequência da volta às aulas, pois é lógico: a população espera sensatez de seus governantes.

Doria precisa entender que, se levada adiante essa proposta, ele será responsabilizado pelas consequências. Não é hora de aglomeração. Nós não podemos arriscar.

A APOS (Associação dos Professores de Osasco e Região) foi muito certeira no posicionamento feito recentemente: Ano letivo recupera-se, vidas não!

A situação é muito séria e ninguém pode brincar com isso. O papel do Governo do Estado é tomar decisões que resguardem principalmente a vida das pessoas.

*Emidio de Souza é deputado estadual e ex-prefeito de Osasco

*Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Fórum