Negacionismos – Por Natália Bonavides

Um acerto de contas com o negacionismo do passado é uma exigência para termos liberdades democráticas em vigor no Brasil.

Foto: Arquivo Nacional
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Por Natália Bonavides *

A tolerância com o negacionismo sobre o passado é o que permite o negacionismo sobre o presente. Os mesmos que negaram o autoritarismo instalado pelo Golpe de 1964 são os que hoje negam a catástrofe que é a condução da pandemia pelo governo Bolsonaro. Os mesmos que esconderam cadáveres de pessoas assassinadas pela Ditadura Militar hoje se esforçam para maquiar o número de mortos vitimados pela Covid-19 e pela gestão genocida de Bolsonaro.

A ausência de punição dura contra quem diz que não existiu ditadura e ainda exalta o regime autoritário criou um ambiente propício para que os mesmos que falseiam a nossa História se sintam à vontade para subverter os fatos do presente. A tolerância com quem faz pouco das vítimas do Terrorismo de Estado perpetrado pela ditadura instalada com o Golpe de 1964 torna mais fácil a vida de quem, em meio a uma pandemia que mata mais de três mil pessoas por dia, despreza a morte e o sofrimento do nosso povo.

Por isso, um acerto de contas com o negacionismo do passado é uma exigência para termos liberdades democráticas em vigor no Brasil. Afinal, como saberemos se a cúpula das Forças Armadas realmente se submete à democracia se, vez ou outra, tratam de redigir notas oficiais que justificam e comemoram o Golpe de 1964? Se sequer se intimida de fazer ameaças ou avisos ao Judiciário por meio do Twitter, como o fez para impedir a liberdade do presidente Lula? Se, hoje, esses setores militares e da direita não se envergonham ao mentir sobre os fatos, ao esconder cadáveres, tal qual como fizeram quando deram o golpe em 1964?

Não há liberdade alguma que permita a aberração de subverter fatos históricos e a comemoração da ditadura que matou e torturou. Esse acerto de contas com o passado é uma tarefa urgente do presente. A democracia, as liberdades e a vida do povo brasileiro estão em risco. Esse acerto deve ser agora, com a queda imediata desse governo autoritário e genocida.

*Natália Bonavides é deputada federal (PT-RN).

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.