Neonazismos: diversos grupos, muito ódio – Por Adriana Dias e Adriana Vespasiana

No Brasil de hoje, uma imensa mistura de grupos advoga a causa do ultranacionalismo, contra o marxismo. Sobre os doze pontos para pensar o neonazismo, falaremos de um desses grupos, o Proud Boys.

Foto: El País (Reprodução)
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Por Adriana Dias e Adriana Vespasiana *

O nazismo não surgiu de uma base homogênea. Ao contrário, os antissemitas alemães se organizaram em vários partidos políticos, muitos grupos e associações desde 1879. As correntes diversas eram linguísticas, religiosas, políticas e raciais. Esses diversos grupos antissemitas queriam acabar e revisar a emancipação judaica, mas não conseguiram atingir seus objetivos. Depois de perder votos nas eleições do Reichstag de 1912, novos clubes e associações antissemitas surgiram, como o Reichshammerbund de Theodor Fritsch, a "Associação contra a opressão do Judaísmo" e a “Ordem Teutônica Secreta”, da qual a Sociedade Thule de Munique se originou em 1918. Em sua revista, usavam a suástica como símbolo do título. Apoiavam-se em argumentos que iam de Lutero a Paul de Lagarde, fantasiosos e conspiracionistas.

Sob o nacional-socialismo, essas correntes e grupos fundiram suas ideias e objetivos racistas, nacionalistas, “pan-alemães” e imperialistas, uns com os outros. Sob o slogan de “Alemanha acima de tudo”, definiam sua visão de mundo como uma oposição estrita ao marxismo dos partidos de esquerda.

No Brasil de hoje, uma imensa mistura de grupos também advoga a causa do ultranacionalismo, contra o marxismo. Nesse novo artigo, sobre os doze pontos para pensar o neonazismo, falaremos de um desses grupos, o Proud Boys.

O Proud Boys é um grupo de ciberódio, terrorismo e antissemitismo, segundo a classificação da ADL[1], fundado em 2016, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos. O grupo pode ser caracterizado como um grupo de extrema direita, ultranacionalista e masculinista. Percebe-se em seus atos e manifestações uma exteriorização de discursos de ódio que o grupo propaga, como por exemplo o antissemitismo e o negacionismo, com a negação do Holocausto. No Brasil a divulgação do grupo foi realizada, por algum tempo, por Hiram Galdino Torres, atualmente de moradia desconhecida.

Foto: Hiram Galdino Torres. Fonte: Google Imagens.

O grupo Proud Boys foi fundado por Gavin McInnes, organizado e pensado a partir do seu programa transmitido online, The Gavin McInnes Show, onde se via presente comentários políticos e discriminatórios que se camuflavam como “humor”. As pessoas que estavam envolvidas no programa e o seu fã-clube, a partir da convocação de McInnes em julho de 2016, passaram a ser a primeira célula dos Proud Boys.

A organização apresenta-se como uma coletânea de (exclusivamente homens) "chauvinistas ocidentais que se recusa a pedir desculpas por terem criado o mundo moderno”, embora a ADL tenha classificado o movimento como “uma força influente da extrema direita e um grupo de ódio” o que os Proud Boys recusam veementemente. O culto à masculinidade dos Proud Boys, é um componente de seu ódio, como apontado por Peter Gay[1]. Ódio que organiza estratégias fascistas, articulando ideias anti-intelectuais, irrealidade, noções deturpadas de hierarquia e vitimização.

No ano seguinte de sua fundação, 2017, os Proud Boys cresceram exponencialmente, apresentando células em outros estados dos EUA e contando com a participação de milhares de membros. Os Proud Boys estiveram presentes em muitos comícios e atos, um exemplo destes foi o ato Unite The Right (UTR), em Charlottesville – Virgínia, que reuniu grupos de extrema direita que eram contrários a remoção do monumento em homenagem à Robert E. Lee, general confederado.

A partir das eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2016, mesmo ano de fundação do grupo, quando o ex-presidente Donald Trump assumiu o seu mandato, os Proud Boys encontraram apoio, mesmo que velado, para os seus movimentos, vindo daquele que foi eleito. O que culminou para o grande ato violento, no qual os Proud Boys fizeram-se presentes: a Invasão ao Capitólio, no dia 6 janeiro de 2021. Além da depredação e conspurcação do edifício, a invasão ao Capitólio resultou em cinco mortes.

Hiram Galdino Torres esteve em Davos na Suíça, para reencontrar amigos brasileiros. As fotos abaixo demonstram o quanto esse grupo está presente no governo brasileiro.


[1] Cf. GAY, Peter. A experiência burguesa da rainha Vitória a Freud. IN: O Cultivo do Ódio, volume 3. A Acariciada cicatriz.

Foto: Foto publicada por Hiram Galdino Torres em seu Twitter. Fonte: Google Imagens.
Foto: Publicações de Hiram Galdino Torres no Instagram. À esquerda, foto de Hiram acompanhado por Jair Bolsonaro. À direita, foto de Hiram acompanhado por Sérgio Moro. Fonte: Instagram de Hiram Galdino Torres (fotos deletadas pelo usuário).
Foto: Hiram Galdino Torres acompanhado por Eduardo Bolsonaro e pessoa cuja identidade não foi identificada. Fonte: Instagram de Hiram Galdino Torres (fotos deletadas pelo usuário).
Foto: Publicação de Eduardo Bolsonaro no Facebook, onde na foto estão presentes o dono da publicação, Hiram Galdino Torres e a esposa deste último. Fonte: Facebook.
Foto: Publicação de Hiram Galdino Torres no Facebook. Na foto Hiram está acompanhado pelos filhos de Jair Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro. Fonte: Facebook.

*Adriana Dias é graduada em Ciências Sociais e mestre e doutoranda em Antropologia Social pela Unicamp. Também é membro da American Anthropological Association.

*Adriana Vespasiana M. Dias é graduanda nas modalidades de bacharelado e licenciatura no curso de Psicologia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e Estagiária de Pesquisa em Direitos Humanos.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

[1] Cf. https://www.adl.org/proudboys.