O petróleo é deles – Por Frei Sérgio Antônio Görgen ofm

Mas quem paga a conta somos nós, quando abastecemos, compramos gás ou quando usamos óleo diesel

Foto: Agência Petrobras/Stéferson Faria
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Por Frei Sérgio Antônio Görgen ofm*

Porque o petróleo agora é “deles”, o preço do gás, do diesel, da gasolina, dos lubrificantes, dos produtos da indústria química que usam derivados de petróleo, disparam todos os dias.

Para entregar o petróleo do Brasil para “Eles” e perseguir os governantes que fortaleceram a Petrobras é que funcionou a tal Lava Jato de Curitiba. O combate à corrupção foi só a “casca” para enganar o povo.

Mas, quem são “eles”, que agora dominam o comércio de combustíveis e derivados no Brasil?

Vamos voltar um pouco na história.

Nos anos 50 do século XX o povo brasileiro foi às ruas com a campanha “O petróleo é nosso” e Getúlio Vargas criou a Petrobras, que se tornou uma das maiores empresas petrolíferas do mundo.

Em 2007, a Petrobras confirmou imensas reservas de petróleo no Oceano Atlântico, na camada pré-sal, em águas profundas. O Brasil entrou no clube das nações com enormes reservas de petróleo, a energia que é o sangue da economia internacional.

O Brasil virou alvo da cobiça internacional e de uma grande disputa entre países ricos, mas sem petróleo, como Estados Unidos, Europa, Japão e China.

A Lei do Pré-sal, aprovada em 2010, protegia a Petrobras como a única exploradora do petróleo do pré-sal, podendo se associar com outras empresas e criando um fundo nacional com os lucros desta exploração para investir em educação, saúde, desenvolvimento tecnológico, geração de emprego e industrialização do país. 

Então, a frase atribuída a Henry Kissinger, estrategista da hegemonia americana no mundo, referindo-se ao Brasil, entrou em ação: “Não podemos permitir um Japão gigante ao sul do Equador”.

Em 2016, logo após o impedimento da presidenta Dilma, Michel Temer tirou da Petrobras o poder de determinar o preço dos combustíveis a partir dos preços internos de extração, refino e distribuição.

Essa política é chamada de paridade de preço de importação, que significa: um produtor dos EUA ou da Ásia, compra o petróleo do Brasil, transporta para lá, refina na sua refinaria e transporta de volta para o Brasil e vende aqui, com todos os custos. Já, a Petrobras que usa o petróleo que produz, refina, coloca à venda pelo mesmo preço que o outro importador, como se tivesse os mesmos custos de produção e transporte.

O preço interno passou a ser ditado pelos preços internacionais. Era a senha para a privatização. As grandes petroleiras internacionais querem o petróleo e a Petrobras para ganhar muito dinheiro em dólar.

Foi para isto que se deu a grande perseguição para destruir a Petrobras, tomar o pré-sal e destruir as forças políticas que os defendiam. Agora, “eles”, os grandes magnatas internacionais do petróleo, mandam e controlam o mercado de combustíveis no Brasil. Já pagamos R$ 122 bilhões para comprar diesel de refinarias americanas em cinco anos, enquanto as refinarias da Petrobras estão produzindo 30% menos que sua capacidade. E o plano de construir novas refinarias também foi para o espaço.

Bolsonaro foi eleito para continuar com esta política entreguista e o pacote desta eleição incluiu Paulo Guedes para dar continuidade à destruição da economia nacional.

O petróleo não é mais nosso. É “deles”. Mas quem paga a conta somos nós, quando abastecemos, compramos gás ou quando usamos óleo diesel. E os combustíveis e seus derivados provocam uma “inflação contagiante”, isto é, afetam toda economia, pois a circulação de mercadorias – e parte da produção – dependem do petróleo.

Com a política econômica desastrosa do Guedes, o dólar subiu. Isto “puxa” para cima o preço de tudo o que importamos. Cada vez que abastecemos, o preço é outro.

E o preço do petróleo no mercado internacional também está em alta. Mais um “guindaste” puxando os preços para o alto.

Mas não precisa ser assim. É possível reverter. O Brasil pode ser autossuficiente em petróleo.

Mas isto será resultado de consciência, luta e um governo decente, com uma política econômica que cuide dos interesses do povo e uma estratégia de autonomia na produção, refino e distribuição de combustíveis em território nacional, balizada pelos custos internos da Petrobras.  

Esta é nossa luta no tempo atual.

*Frei Sérgio Antônio Görgen ofm é franciscano, militante do MPA, autor de “Agricultura camponesa familiar – Indispensável para reconstruir o Brasil”.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.