O Planeta Azul – O Brasil visto de fora: Entrevista com Guilherme Casarões

Na parceria da Revista Fórum com o canal O Planeta Azul, confira hoje uma entrevista com o cientista político e professor da FGV Guilherme Casarões, que fala sobre a imagem do Brasil diante da comunidade internacional.

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Publicado por O Planeta Azul

O Brasil não vai passar a ser bem visto pelo mundo e nem a relação do governo com o chamado centrão vai melhorar com a saída de Ernesto Araújo do Ministério das Relações Exteriores. As afirmações são do cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo Guilherme Casarões, em entrevista exclusiva ao canal O Planeta Azul.

A imagem internacional do Brasil no exterior sofreu abalos nos últimos anos. Parte disso é consequência de uma política externa que apostou num alinhamento automático com o governo Trump, potencializando uma polarização política que afastou nosso país de outras nações importantes.

A forma de tratar a pandemia também vem prejudicando nossa imagem internacional. A recente troca ministerial, que incluiu o alto comando das Forças Armadas, colocou um degrau a mais na escalada da crise política, segundo Casarões.

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Uma política externa marcada pelo descarte do multilateralismo, pelo desmonte da antiga máquina burocrática do Itamaraty e por declarações que deixaram o Brasil mais distante de suas tradições diplomáticas e mais perto da diplomacia de países teocráticos do Oriente Médio foram as principais consequências do governo Bolsonaro até o momento. No longo prazo, os desdobramentos mais perenes da política externa dos dois últimos anos serão um Itamaraty "menor", com atuação diplomática fragmentada pelo país, e um incentivo ao preconceito contra chineses dentro do Brasil.

Para Casarões, Araújo era um dos responsáveis pela derrocada da imagem do Brasil no exterior. Mas o responsável, como é visto no exterior, é o próprio presidente Jair Bolsonaro. E essa imagem mudará pouco enquanto ele permanecer no governo.

Segundo o cientista político, o presidente sofreu uma derrota na queda de braço com o centrão. Houve um desgaste com esse grupo, que foi acelerada pela maneira como Bolsonaro conduziu as tensões criadas com a China. Mas, a demora na compra de vacinas e a condução da pandemia no Brasil pesaram muito na erosão da imagem de Araújo.

Ao mesmo tempo em que o governo tentava mudar a sua narrativa, se dizendo preocupado com a pandemia, o chanceler seguia boicotando a entrada do Brasil no consórcio de vacinas Covax.

Houve mudanças importantes, sob o ponto de vista do controle do Executivo no governo.

O general Braga Neto, no Ministério da Defesa, mantém a estreita relação do presidente com o comando das Forças Armadas. Na Secretaria-Geral da Presidência, que faz a articulação com o Legislativo, foi escolhida uma representante do centrão, a deputada federal Flavia Arruda (PL-DF). Ela é casada com José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal, e que foi condenado por corrupção após ser flagrado recebendo propina.

Para Casarões, no cenário internacional, o Brasil deve tomar cuidado, pois Bolsonaro foi o único líder mundial a apoiar publicamente e fazer campanha para Trump, que perdeu as eleições. O presidente eleito, Joe Biden, vê o Brasil e Bolsonaro com desconfiança. E o mais preocupante, com a atual condução da pandemia, das políticas ambientais que entram em conflito com o mercado e a política internacional, o Brasil pode facilmente entrar na lista de "inimigo externo" dos EUA, uma figura historicamente usada pelos governantes norte-americanos para justificar diversas medidas de bloqueio econômico.