Psicanalista explica a pedofilia: Doença, perversão, fetiche?

Fani Hisgail, autora do livro "Pedofilia: Um Estudo Psicanalítico", também explica quais são os principais fatores que podem desencadear em adultos a atração sexual por crianças

Foto: Agência Brasil
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Uma suposta conversa entre o youtuber PC Siqueira, de 34 anos, e um amigo desconhecido foi vazada nas redes sociais nesta quarta-feira (10). No diálogo, via Instagram, o influenciador teria dito, animado, que recebeu fotos de uma criança de seis anos de idade nua e que as mesmas teriam sido enviadas pela própria mãe da menor.

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A conversa viralizou nas redes e reacendeu o debate sobre o que é pedofilia e quais fatores contribuem para o seu desenvolvimento. Há quem defenda que se trata de uma doença e que a mesma pode receber tratamento. Outros a definem como um fetiche e pedem apenas a punição da lei.

Do ponto de vista psicanalítico, a pedofilia é considerada uma "parafilia", conceito que veio para substituir a palavra "perversão". A parafilia engloba todos os distúrbios psíquicos que se caracterizam pela preferência ou obsessão por práticas sexuais não aceitas socialmente, como é o caso da pedofilia.

"A pedofilia é uma manifestação patológica do indivíduo e pode ser tratada. No entanto, de acordo com a lei, também é uma manifestação criminosa", explica a psicanalista e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Fani Hisgail, em entrevista à Fórum. Hisgail é autora do livro "Pedofilia: Um Estudo Psicanalítico", da editora Iluminuras.

A psicanalista explica que, no geral, tende a ser traumático para uma criança ser vítima de abuso ou assédio sexual por um adulto. Na primeira infância, por exemplo, período que compreende até os cinco anos de idade, a criança está começando a explorar sua sexualidade.

"Na primeira infância, até os 5 anos, é quando a criança começa a explorar as manifestações de satisfação libidinal do corpo. De certo modo, ela vivencia a sexualidade no que se refere às descobertas que ela mesma vai fazendo. Isso faz parte do desenvolvimento da sexualidade infantil. O adulto que tem o impulso de aliciar e seduzir uma criança, para ter atos libidinosos ou atos sexuais com ela, tende a deixar traumas para a vítima", afirma Hisgail.

Com relação aos fatores que podem desencadear a parafilia, a psicanalista explica que o caso é comum em lares onde a criança é exposta desde cedo a uma promiscuidade elevada entre adultos.

"São situações onde não se organiza simbolicamente para a criança que existem espaços voltados para isso. Lares onde todos dormem no mesmo cômodo, por exemplo, e presencia os atos sexuais dos pais. Com isso, a criança tende a reproduzir comportamentos dos adultos com outras crianças, e crianças menores. Esse pode ser um comportamento que não é reprimido do ponto de vista do adulto e essa criança continua a cometê-lo", comenta a especialista.

"Tudo tem a ver com a história desse adulto, do que ele viveu nesses primeiros anos de vida com relação a sua própria infância e puberdade. É isso que vai explicar essas compulsões sexuais", continuou.

No âmbito jurídico, a pedofilia é conceituada como o abuso sexual de crianças e adolescentes, o que engloba inúmeros crimes previstos tanto no ECA, quanto no Código Penal.