Um bom tempo para ser evangélico, por Zé Barbosa

“- Como é ser evangélico num tempo em que essa expressão ‘ser evangélico’ está tão desgastada e representa o que há de pior no Brasil e na nossa sociedade?”

Cristãos progressistas em ato (Foto: Fernando Frazão/ABr)
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Nas últimas semanas é praticamente impossível abrir um jornal, um site de notícias, ou assistir a um programa jornalístico no Brasil sem ouvir falar de Pastor Everaldo, Flordelis ou Crivella. Em comum, e sempre exposto, o fato de serem evangélicos e usarem da religião como instrumento de discurso e poder.

Ouço constantemente dos amigos não evangélicos a pergunta: “Como é ser evangélico num tempo em que essa expressão ‘ser evangélico’ está tão desgastada e representa o que há de pior no Brasil e na nossa sociedade?”

Muitos já não utilizam mais para si mesmos o termo “evangélico”. Trocam por “cristãos”, “protestantes”, “seguidores do Cristo”, etc… Confesso que, para mim, é “trocar o seis por meia dúzia” e, pior, entregar um termo cheio de significado nas mãos de bandidos e falsos líderes que manipulam pessoas, exploram a fé dos mais simples e constroem impérios às custas do povo oprimido “em nome de Deus”.

Evangelho é uma palavra que significa, na sua raiz, “uma boa notícia”, logo, anunciar o evangelho era trazer ao povo oprimido essa notícia que poderia mudar a vida e tirá-los da opressão. E a mensagem do Evangelho de Cristo era “O Reino de Deus chegou”, o que significava um contraponto ao evangelho do Imperador e à sua tirania. Era anunciado um Reino de justiça e equidade. Jesus mesmo resume o Evangelho desta forma: “Os cegos veem, Os paralíticos andam, Os leprosos são purificados, Os surdos ouvem, Os mortos ressuscitam, Os marginalizados da terra ficam sabendo que Deus está do lado deles.” E aqui é bom que se entenda o significado de todas essas “doenças” como exclusão social.

Sim! Esse é o Evangelho! E penso que esse é um bom tempo para ser evangélico, que nada mais é que anunciar essa boa notícia de forma visceral contra os poderosos, contra os falsos pastores, contra a bancada evangélica, e tirar deles essa narrativa perversa a que transformaram a fé: um moralismo barato e raso, a legitimação da violência e do preconceito, o racismo religioso e uma prosperidade nefasta e capitalista.

Um povo que nega a ciência e a sua luta por salvar vidas, que é capaz de chamar uma criança abusada sexualmente de “assassina”, que explora pobres, que os impede de ter dignidade, que mata negros, LGBTQI+, que oprime e mata mulheres deveria ter vergonha de se dizer “evangélico”. Sem contar a hipocrisia reinante em querer “destruir ditaduras” imaginárias, mas querer implantar seu império teocrático num país que os próprios protestantes lutaram para se tornar laico.

“Nunca antes na história desse país” precisamos tanto que os evangélicos se levantem a denunciar Malafaias e Macedos, a expulsar dos templos Damares e Cunhas, a estalar o chicote da indignação nas costas de Everaldos e Crivellas. E a exorcizar o país do príncipe dos demônios: Bolsonaro!

Chegou o tempo de quem se diz evangélico, ser evangélico!