Caixa de supermercado humilhada por Russomanno conta que foi punida pela empresa

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Um vídeo que circula na internet mostra o candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo ameaçando “conduzir Cleide Cruz para a delegacia”. “Ele me humilhou, à mim e à subgerente. Por causa deste episódio, fui rebaixada de salário e transferida para uma unidade bem mais distante da minha casa", disse Por Vinicius Segalla e Gustavo Aranda, para os Jornalistas Livres A ex-caixa do supermercado “Dia %” Cleide Cruz, que, há dez anos, recebeu uma visita do deputado Federal Celso Russomanno (então do PP-SP) em seu ambiente de trabalho, veio a ser notícia nos últimos dias. Circula na internet um vídeo dessa visita do atual candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo, em que ele aparece ameaçando “conduzir a caixa para a delegacia”. Russomanno, então, publicou uma nota na imprensa afirmando que jamais ofendeu Cleide ou nenhum outro funcionário, e o vídeo que está circulando na rede é uma edição maldosa para fazer parecer que ele ofendera os funcionários. Diz a nota: “Não ofendi nem insultei a atendente. Apenas defendi o direito do consumidor de adquirir os produtos na quantidade adequada às necessidades da consumidora. Como o vídeo em questão é uma montagem, não mostra que no final as funcionárias me agradecem e defendem a ação.” Nesta terça-feira, porém, a reportagem dos Jornalistas Livres conversou com Cleide Cruz, que contou uma história diferente: “Ele me humilhou, à mim e à subgerente. Por causa deste episódio, fui rebaixada de salário e transferida para uma unidade bem mais distante da minha casa”. Além de conceder a entrevista, Cleide enviou à reportagem um vídeo de 26 minutos contando tudo que acontecera, segundo a sua versão. A íntegra pode ser vista neste link: https://www.youtube.com/watch?v=JQ102cry1_A&feature=youtu.be. Já no vídeo publicado abaixo, há uma versão resumida do vídeo gravado por Cleide. Aos Jornalistas Livres, Cleide contou que Russomanno perguntou se ela já havia utilizado algemas, e se achava que estava acima da lei. “Mas o pior não foi a humilhação na hora. O pior veio depois”, disse. Cleide levou duas advertências e uma suspensão de três dias, depois foi transferida da loja onde trabalhava, na Vila Formosa (região sudoeste da cidade), para Ferraz de Vasconcellos (cidade da Grande SP, ao leste do município). “Completamente fora de mão para mim, foi um castigo. Houve mudança de carga horária e com isso eu tive uma redução salarial. É que o supervisor disse que eu conduzi mal o processo, que não soube lidar com a situação e acabei expondo o supermercado”. Chateada com a situação, ela decidiu entrar em contato com a produção do programa de TV que Russomanno tinha ido gravar ali. É que ao final da gravação de seu quadro, antes de sair do local, o então deputado distribuiu cartões para as atendentes, agradeceu a atenção, gravou uma cena conciliadora. “Então, eu liguei, para ver se ele podia ajudar, mas ele nem quis falar comigo. A produção disse que ele não poderia fazer nada, que ali no supermercado ele só estava fazendo seu trabalho”. Alguns meses depois, Cleide perdeu o emprego. Caixa de supermercado diz que foi humilhada e deixou emprego após visita de Russomanno. “Benefício ao consumidor” O caso todo que Russomanno foi gravar no supermercado “Dia %” era a respeito de uma consumidora que queria apenas uma unidade de um iogurte para crianças, que não era vendido em menos do que quatro unidades. O então apresentador de TV foi ao supermercado e gravou uma cena retirando caixas de fósforos de pacotes, rolos de papel toalha e higiênico de dentro de embalagens de quatro unidades e tentando comprar separadamente. Assim, na nota que o candidato publicou na imprensa nesta terça, ele afirma: “O caso foi solucionado e beneficiou milhares de consumidores de baixa renda que muitas vezes precisam comprar produtos avulsos e mais baratos.” A afirmação de Russomanno, porém, não encontra respaldo algum na realidade. Naquele dia, após ter chamado a polícia e de posse de câmera de TV e microfone, ele conseguiu mesmo que a sua consumidora levasse apenas uma unidade de iogurte, sob escolta policial. Apenas é notório que nada se alterou na realidade dos supermercados brasileiros ou da cadeia do varejo graças à performance do candidato. Na vida de Cleide, sim.