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Depois de décadas de luta contra o preconceito com relação às pessoas que convivem com o vírus HIV, o Brasil viu nesta quarta-feira (5) seu presidente da República ir na contramão mundial sobre o assunto e disparar a seguinte frase: "Uma pessoa com HIV é uma despesa para todos".
A declaração preconceituosa de Bolsonaro, que se soma a outras tantas, vem justamente às vésperas do carnaval, período em que pretende encampar uma retrógrada campanha de abstinência sexual, e apenas um dia após a morte do famoso locutor de rodeios Asa Branca, que conviva há anos com o vírus HIV.
Em entrevista à Fórum, Maria Eduarda Aguiar, advogada e presidenta do Grupo pela Vidda, ONG do Rio de Janeiro que atua há mais de 30 anos e que é pioneira na militância contra a estigmatização de pessoas com HIV, classificou a declaração de Bolsonaro como "lamentável" e denunciou o desmonte que o governo vem encampando nas políticas de tratamento e prevenção.
"É bem lamentável a gente ter que se deparar com esse tipo de fala. Porque a política de saúde para pessoas que vivem com HIV é necessária, mas também é importante campanhas de prevenção. O presidente faz uma análise errada do problema querendo culpabilizar as pessoas que contraíram o vírus HIV, que tentam viver com dignidade, mas não ataca o problema, que é a falta de informação, a falta de insumos", declarou.
"A gente vê o governo federal fazendo uma campanha de abstinência sexual enquanto há notícias de que, no Rio de Janeiro, não há insumos de prevenção. Está faltando preservativo, gel, camisinha... Como o governo quer jogar a culpa nas pessoas que vivem com HIV quando o mesmo governo é ineficiente no papel, que ele teria obrigação, de prevenção e combate ao HIV? O Brasil não consegue nem cumprir as metas internacionais de combate ao HIV", denunciou Aguiar.
Segundo a presidenta do Grupo pela Vidda, o governo de Bolsonaro cancelou, no início do ano, um edital de testagem para o vírus HIV alegando falta de recursos. "Essa é mais uma fala que demonstra a ótica desse governo que é não suportar determinados grupos da população. É um governo que quer governar para um grupo específico e não para todos os brasileiros. Ele trata como um gasto, não como política de saúde ou direitos humanos. Pra ele é só um número", analisou.
Aguiar avalia ainda que a falta de políticas de prevenção somada à declaração preconceituosa de Bolsonaro faz com que as pessoas que vivem com HIV sejam ainda mais marginalizadas e, para além disso, faz com que elas próprias se sintam culpadas por um problema que deveria ser amparado pelo Estado.
"Você ter uma declaração de um chefe de Estado dizendo que pessoas com HIV dão prejuízo pro pais, com certeza as pessoas com HIV se sentem extremamente inferiorizadas, se sentem apontadas, culpadas. Acha que ela que é o problema pro país, que não deveria existir. Isso nunca deveria ter sido falado", afirmou.
Outro ponto levantado pela advogada é com relação à seletividade do presidente ao atacar pessoas com HIV que, segundo ela, está mais ligada ao conservadorismo do governo com condutas sexuais.
"Não sou culpabilizada por se diabética, ninguém diz que pessoas com diabetes dão despesa para o país. Mas pessoas com HIV, sim. A questão é mais de conservadorismo com relação à conduta sexual do que à infecção por HIV de fato. Por isso que o HIV é sempre tão discriminado", pontuou.
Repúdio de frente parlamentar
Após a declaração de Bolsonaro, a Frente Parlamentar Mista de Enfrentamento às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), do HIV/AIDS e Hepatites Virais no Congresso Nacional divulgou uma nota de repúdio.
"O presidente Bolsonaro mais uma vez escolhe mentir e, ainda, revela preconceito tentando estigmar as políticas públicas aplicadas nos últimos anos, preconizadas por órgãos multilaterais e reconhecidas mundialmente no combate ao HIV", diz a nota.
Confira a íntegra.
A Frente Parlamentar Mista de Enfrentamento às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), do HIV/AIDS e Hepatites Virais no Congresso Nacional repudia com veemência a declaração desrespeitosa do presidente Jair Bolsonaro contra as pessoas vivendo com HIV/Aids no país, onde afirmou: “Uma pessoa com HIV é uma despesa para todos aqui no Brasil”.
O presidente Bolsonaro mais uma vez escolhe mentir e, ainda, revela preconceito tentando estigmar as políticas públicas aplicadas nos últimos anos, preconizadas por órgãos multilaterais e reconhecidas mundialmente no combate ao HIV.
Bolsonaro demonstra, também, profundo desrespeito contra a população brasileira e com a história da ciência no país, desenvolvida de forma eficiente e precisa por milhares de pesquisadores e servidores públicos da área. Mas, Bolsonaro prefere implantar e incentivar ações não comprovadas cientificamente, que já demostraram não estabelecer resultados efetivos, indo, mais uma vez, na contramão do mundo.
O preconceito, a mentira, o estímulo à ignorância, a segregação e estigmatização por parte do chefe do Poder Executivo não pode ser tolerada, pois ofende a dignidade da pessoa humana, avilta milhares de cidadãos e cidadãs brasileiros e aprofunda, ainda mais, a tragédia do nosso tempo.
O estigma pode levar a morte, e estudos realizados pela UNAIDS Brasil demonstra que mais de 64% das pessoas entrevistadas e que vivem com HIV já sofreram alguma discriminação. Por isso a agência da ONU criou a campanha “ZERO DISCRIMINAÇÃO”. E é preocupante que ela seja realizada pelo próprio chefe do poder executivo.
Deputado Alexandre Padilha (PT-SP)
Presidente
Alexandre Frota (PSDB – SP)
Deputado Camilo Capiberibe (PSB – AP)
Deputado Chico D Ângelo (PDT –RJ)
Deputada Erika Kokay (PT – DF)
Deputada Fernanda Melchiona (Psol – RS)