Fala de comentarista da Jovem Pan é "antissemita e burra", diz coletivo de judeus

"Comentarista cristão" José Carlos Bernardi atribuiu o sucesso econômico da Alemanha ao Holocausto e falou em "matar um monte de judeus" para o Brasil enriquecer

José Carlos Bernardi, que associou, na Jovem Pan, o Holocausto ao sucesso econômico da Alemanha e que falou em "matar judeus" (Reprodução/Twitter)
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O coletivo Judeus Pela Democracia, através das redes sociais, classificou nesta terça-feira (16) a fala feita por José Carlos Bernardi na Jovem Pan News como "antissemita e burra". O autointitulado "comentarista cristão" associou durante o programa ao vivo, pela manhã, o sucesso econômico da Alemanha ao Holocausto - genocídio produzido pelos nazistas que vitimou 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial.

"A fala de Bernardi apoia-se no mito antissemita da riqueza dos judeus e ignora totalmente os diversos fatores econômicos que alçaram a Alemanha ao patamar de desenvolvimento atual. É antissemita e é burra", escreve o coletivo de judeus.

"Cada vez que certos jornalistas emitem comentário de opinião na Jovem Pan, líderes totalitários fascistas devem se regozijar em seus túmulos (ou no colo do capeta, aos que creem). A fala de José Carlos Bernardi, que atribui o desenvolvimento alemão ao genocídio dos judeus, além de mentirosa e revisionista é reincidente na emissora. Já vimos Constantino, Nunes e outros que se dizem analistas vomitando suas atrocidades. Não à toa, este é o canal de 'oficial' do governo e da extrema-direita brasileira", destacou ainda o grupo.

https://twitter.com/jpdoficial1/status/1460691910062968842

"Matar um monte de judeus"

José Carlos Bernardi discutia com a jornalista Amanda Klein a atuação de países europeus em defesa da Amazônia, chamando isso de “interferência”, e acusando a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, de ser “globalista” – discurso encampando por bolsonaristas que seguem as “teorias” de Olavo de Carvalho.

Em dado momento, Amanda Klein afirmou: “Quem dera se o Brasil chegasse aos pés do desenvolvimento econômico da Alemanha”.

Foi aí, então, que Bernardi, ainda que com tom irônico, fez o comentário, associando o sucesso econômico da Alemanha ao Holocausto. “É só assaltar todos os judeus que a gente consegue chegar lá. Se a gente matar um monte de judeus e se apropriar do poder econômico dos judeus, o Brasil enriquece. Foi o que aconteceu com a Alemanha no pós-guerra”, disparou.

Assista à cena aqui.

Racismo

À Fórum, a antropóloga Adriana Dias, considerada uma das maiores estudiosas do neonazismo do Brasil, afirmou que a fala de Bernardi pode ser interpretada como uma apologia ao nazismo. “Eu diria que qualquer pessoa que incentiva um genocídio não deveria trabalhar numa emissora de TV. Não aguentamos mais essa ideia de que são os judeus que organizam o capital em torno de si e impedem os outros de crescer. Essa propaganda de ódio só consegue surgir nesse momento graças à fala conspiratória do Bolsonaro”, avalia.

A pesquisadora destaca, porém, que como o comentarista não fez referências a Adolf Hitler ou ao Estado nazista, ele deveria ser processado por racismo, que é um crime inafiançável e imprescritível. “Infelizmente no Brasil não é crime negar o Holocausto. Estamos tentando reformular essa lei”, diz.

Antissemitismo

Após o programa, a jornalista Amanda Klein foi às redes sociais para lamentar a fala de José Carlos Bernardi, que ela classificou como antissemita.

“Hj participei de debate em q meu colega fez um comentário antissemita. Na hora ñ ouvi direito. Ele me interrompia bastante. Quero manifestar meu mais profundo repúdio ao negacionismo histórico e à abjeta associação entre o Holocausto e motivações econômicas”, declarou.

Também pelas redes sociais, Michel Gherman, que é historiador, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) E coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaico da universidade, afirmou que, “além da ignorância completa dos processos do pós guerra, típica de um analfabeto em História, o sujeito incorpora referencias do antissemitismo”.

“Para essa nova extrema direita, o conceito do genocídio não existe. Assim, o Holocausto teve razões objetivas, que eles inventam. No caso acima, o cara da Jovem Pan, incorpora as logicas do antissemitismo mais escroto, diz que o assassinato de milhões de judeus tem relação com o dinheiro que eles teriam. Aqui, o sujeito incorpora referências do ‘judeu rico’ para justificar suas teses mirabolantes. Filhas do ‘nazismo de esquerda’, essas bobagens transformam o genocídio dos judeus em um detalhe”, explica Gherman.

Retratação

Após a repercussão do ocorrido, a Jovem Pan News divulgou uma nota com um pedido de desculpas de José Carlos Bernardi.

Leia a íntegra.

“Peço desculpas pelo comentário infeliz que fiz hoje no jornal da manhã, primeira edição, ao usar um triste fato histórico para comparar as economias brasileira e alemã. Fui mal-entendido. Não foi minha intenção ofender a ninguém, a nenhuma comunidade, é só ver o contexto do raciocínio.

Mas, de qualquer forma, não quero que sobrem dúvidas sobre o meu respeito ao povo judeu e que, reitero, tudo não passa de um mal-entendido. Obrigado”