AO ESTILO BOLSONARO

Após 9 dias, Damares se pronuncia sobre estupro de menina yanomami: "Lamento, acontece todo dia"

Ex-ministra, que só deixou o cargo para concorrer ao Senado e que diz defender mulheres e crianças, é apontada por entidades como uma das responsáveis pela falta de proteção aos indígenas e seus territórios

Damares Alves em evento com povos indígenas.Créditos: Foto: Willian Meira
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A ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, demorou 9 dias para se pronunciar sobre o estupro e morte de uma adolescente yanomami da comunidade de Aracaçá, região de Waikás, em Roraima. A jovem indígena foi atacada por garimpeiros que atuam de forma ilegal e o caso, denunciado na última semana por Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), chocou o país. 

"Esse caso traz a questão do garimpo, mas quero lembrar que os garimpos estão em terras indígenas há mais de 70 anos, de forma irregular, e são muitas as violências. Esse caso dessa menina causou essa repercussão toda, e isso é muito bom porque a gente ainda vai conversar sobre violência sexual contra crianças indígenas. A gente não pode ser pautada por um só caso. Lamento, mas acontece todo dia", disparou a ministra, ao estilo de Jair Bolsonaro (PL), que em um dos picos da pandemia do coronavírus, ao falar sobre as mortes, disse "lamento, quer que eu faça o quê?". 

A declaração de Damares foi dada em entrevista ao portal UOL nesta quinta-feira (5). Segundo a ex-ministra, foi ela quem teria introduzido a temática de estupro de crianças, quando ainda estava no governo. "Fui eu que falei sobre o estupro de crianças, inclusive estupro coletivo de crianças em áreas indígenas até mesmo em forma de ritual. Fui eu que levantei, no Brasil, lá atrás, em forma de debate, sobre a cultura nociva em alguns povos no Brasil", declarou. 

Acontece que Damares é apontada por entidades ligadas à causa indígena, ao lado de Jair Bolsonaro, como uma das responsáveis pela anuência com a lógica predatória do garimpo ilegal nas comunidades de povos tradicionais e a consequente falta de proteção a essas pessoas, sendo que o Estado, através do ministério que comandava, deveria garantir a segurança e os direitos assegurados pela Constituição a essas pessoas. 

Diligências em Terra Yanomami 

O presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, Humberto Costa (PT-PE) pediu ao presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que requeira ao governo federal estrutura logística e de segurança para as diligências que senadores e deputados farão a Roraima. O objetivo é investigar e apurar as denúncias de violência praticadas contra os Yanomamis.

Costa pretende realizar as diligências de investigação sobre infanticídio, homicídio, estupro de menina, desaparecimento de indígenas, entre outros crimes, tanto em Boa Vista, capital de Roraima, quanto na área de conflito entre o garimpo ilegal e os Yanomamis.

As diligências estão previstas para os dias 11 e 12 de maio. O presidente da CDH se reuniu, na tarde desta quarta-feira (4), com a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), presidenta da Frente Parlamentar Mista de Apoio às Causas Indígenas, para discutir o tema.

“Estamos acertando os detalhes da visita da CDH do Senado e, também, da Câmara dos Deputados à cidade de Boa Vista e ao território Yanomami. Nós vamos ‘in loco’ averiguar e ouvir das comunidades seus relatos sobre as denúncias que vêm sendo reiteradamente feitas pela existência do garimpo ilegal em terras indígenas, o que é inconstitucional”, relata Humberto Costa.

O senador também ressalta “a série de denúncias e violências, como sequestros e mortes contra as comunidades indígenas, que têm resistido a essa ação que os garimpeiros ilegais têm desenvolvido. Vamos cobrar das autoridades, tanto do estado de Roraima, quanto as autoridades federais que lá estão, a garantia do que a Constituição prevê, que é exatamente a preservação da integridade física e psicológica dos indígenas, mas acima de tudo o respeito a própria lei que lhes garante a terra”.

O parlamentar acrescenta: “Na próxima semana, nós estaremos lá, esperamos levar uma grande delegação de senadores e deputados. Com isso, trazer para o Parlamento um debate que já incide internacionalmente com muita relevância”, diz.