RACISMO

Executivo encerra contrato de R$ 1 milhão após ser chamado de “negão”

'Negão, o c*ralho'. Disse que não tinha desculpa, que não negócio com racista, que aquilo era crime e que não ia ficar assim", conta

Juliano Pereira dos Santos.Créditos: Arquivo Pessoal
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A Oracle, uma das maiores empresas de tecnologia do país, virou alvo de uma ação judicial após uma denúncia de racismo durante negociação que envolvia um contrato no valor de R$ 1 milhão com a Proz Educação, fornecedora homologada de seus serviços e um dos clientes desta prestadora.

O diretor-técnico da Proz, Juliano Pereira dos Santos, 37, diz ter sido chamado de "negão" por Matheus Mason Adorno, representante da Optat Consulting, em uma videoconferência. Por considerar que a colocação foi racista, o executivo encerrou a negociação e entrou com processos na Justiça.

O episódio selou o fim de uma parceria entre Proz e Optat para implementação de um software de gestão financeira na nuvem da Oracle.

Após uma negociação complicada e repleta de acusações mútuas, o executivo da Optat se dirigiu a Juliano de maneira ofensiva:

Aí não, negão. Aí você quer me foder."

Racismo

Santos considerou que o tratamento dispensado por uma pessoa que mal conhecia e durante uma reunião de trabalho só tinha uma explicação: racismo. A reação, relata, foi explosiva. "Eu disse: 'Negão, o caralho'. Disse que não tinha desculpa, que não negócio com racista, que aquilo era crime e que não ia ficar assim", conta.

“Se viesse de um amigo, negro, e se a gente estivesse conversando num ambiente familiar, não teria problema. Mas num contexto de uma pessoa branca que eu não conheço, com quem não tenho intimidade, discutindo comigo uma soma de dinheiro considerável, é claramente agir de forma a me desmoralizar, e isso é inaceitável. É muito simples separar uma coisa da outra”, disse Juliano.

Bônus de R$ 30 mil

Santos diz que deixou de receber um bônus de R$ 30 mil por não ter entregado o sistema de gestão financeira até o final do ano passado. Ele afirma que não pretende ficar com a indenização caso ganhe a ação. Promete doar para bolsas de estudos em cursos de tecnologia. "Esse dinheiro precisa ser revertido pra incluir e formar novas lideranças negras na área de tecnologia, que hoje é uma área majoritariamente de homens brancos", justifica.

A Proz informa ter contabilizado um prejuízo de R$ 400 mil para contratar outro fornecedor homologado pela Oracle para reiniciar o projeto. Mesmo assim, decidiu apoiar o funcionário.

Eduardo Adrião, CEO da Proz, disse que a empresa "não tolera qualquer natureza de discriminação. Apoiamos e apoiaremos sempre nossos colaboradores em qualquer situação de discriminação vivida no ambiente empresarial".

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