“A USP não tem cotas porque ela reforça esse privilégio da intelectualidade branca”, diz aluna negra

Alunos negros da instituição promoveram uma virada cultural para trazer a discussão das cotas de volta à tona.

Escrito en DIREITOS el
Estudantes negros da instituição promoveram uma virada cultural para trazer a discussão das cotas de volta à tona Por Beatriz Sanz Em uma ação independente, alunos negros da USP (Universidade de São Paulo) convocaram na Praça do Relógio, dentro da Cidade Universitária, uma virada cultural simbólica. O  evento “Por que a USP não tem cotas?” aconteceu entre a noite de segunda-feira (27) e a manhã de terça (28). A aluna de geografia e uma das coordenadoras da ação, Andreza Delgado, 20 anos, respondeu prontamente: “A USP não tem cotas porque ela reforça esse privilégio da intelectualidade branca”. Essa indagação proposta pelo evento, na verdade, tem sido feita há muito tempo, mas a discussão se intensificou depois da Lei Federal 12.711, sancionada em 2012 pela presidenta Dilma. A lei unifica o processo de cotas nas Universidades Federais e inclui a obrigatoriedade da reserva de vagas nos projetos sociais como Prouni e Sisu. As Universidades Estaduais, porém, funcionam de uma outra maneira. No Rio de Janeiro, por exemplo, existe desde 2008 a Lei Estadual 5.346 que dispõe sobre a reserva de vagas nas Universidades mantidas pelo executivo estadual. No Estado de São Paulo, funciona de uma outra maneira. Como o Estado não possui legislação específica, as cotas nas três universidades estaduais (USP, Unesp e Unicamp) são regidas por normas internas da instituição. Atualmente, a Unesp é a única estadual que adota a reserva de vagas nos moldes da legislação federal. Por que a USP não tem cotas? A USP adota um sistema de bonificação, onde o aluno recebe uma bonificação de 5% na nota quando se autodeclara preto, pardo ou indígena (PPI). Se o aluno for oriundo da escola pública, ele pode ganhar um segundo bônus que pode alcançar até 20%. Porém essa pontuação extra só é válida se o aluno passar na primeira fase do vestibular. “Bônus não é cota, porque não é reserva de vagas e, na prática, não beneficiam quase ninguém”, afirma o coordenador do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (GEMAA), João Feres Júnior. João Feres, que também é professor do Instituto de Ciências Sociais e Políticas (Iesp) da Uerj afirma ainda que se o sistema não integra a população, ele é ineficaz. “As universidades de São Paulo estão muito atrasadas em relação ao Brasil na questão da inclusão porque são muito elitistas. Esse é um elitismo burro pois descarta talentos das escolas públicas e da população negra”, finalizou o professor. Meritocracia A USP afirma que a principal premissa para o ingresso na instituição é a meritocracia. A estudante Andreza se contrapõe a esse discurso. “Meritocracia é história para boi dormir tranquilo sabendo que não vai perder os privilégios”. Andreza lembra que nesse sistema um estudante da escola pública tem pouquíssimas chances contra um aluno que teve toda sua educação regular em escolas particulares. Para saber mais sobre o tema, relembre  a reportagem sobre cotas feita pela Fórum sobre os dez anos da política no país. Foto de Capa: Lucas Martins/ Jornalistas Livres

Temas