Com gritos de “Viva Bolsonaro”, militantes de direita tumultuam audiência para discutir invasão da Unifesp pela PM

Integrantes de um grupo intitulado Mobilização Brasil provocaram debatedores durante encontro realizado nas dependências da Câmara Municipal de Santos.

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Integrantes de um grupo intitulado Mobilização Brasil provocaram debatedores durante encontro realizado nas dependências da Câmara Municipal de Santos. Por Lucas Vasques A audiência pública, realizada na noite desta quarta-feira (23), na Câmara dos Vereadores de Santos, com o objetivo de discutir a ação da Polícia Militar, que intimidou e constrangeu estudantes e professores no Campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), no dia 11 de agosto, acabou em bate-boca, confusão e, por pouco, em briga. Um grupo intitulado Mobilização Brasil, presente ao local com cerca de 15 integrantes, defendeu a atitude dos PMs na universidade, tumultuou o debate e desviou o foco central das intervenções, inclusive com gritos de “Viva Bolsonaro”, “Ustra” e citações pouco elogiosas à Venezuela e ao presidente Nicolás Maduro, além do já tradicional “Vai pra Cuba”. “Só tenho a lamentar as cenas de violência que presenciamos e as palavras de enfrentamento ouvidas aqui. Se eu estava triste com o que ocorreu na Unifesp, saio agora mais triste ainda”. Dessa forma Rodrigo Medina Zagni, presidente da Associação dos Docentes da Unifesp (Adunifesp), resumiu seu sentimento, após a audiência, que foi convocada pela vereadora Telma de Souza (PT), presidenta da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal de Santos. Para Medina, é difícil observar pessoas que “são facilmente cooptadas por grupos políticos oportunistas, que se apropriam desse tipo de discurso e acabam virando massa de manobra”. Raphael da Rocha Pereira, representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – Subseção Santos, procurou se manter no tema do debate e afirmou que o encontro foi importante para que se discutisse o papel da polícia em uma sociedade democrática. “Apesar de tudo, fiquei satisfeita com o saldo da audiência, porque todos puderam expor suas opiniões. Ninguém pode dizer que foi cerceado. Acredito que cumprimos o papel de trazer a discussão para que fatos como os que ocorreram na Unifesp não se tornem regra”, avaliou Telma de Souza. Já Carina Vitral, ex-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), alertou para a necessidade do diálogo para que esse tipo de situação avance na direção de uma solução satisfatória. “O momento de polarização política faz com que ocorram situações como a que aconteceu na Unifesp. Provocou, inclusive, a violação da Constituição Brasileira, com a efetivação do golpe, que tirou a presidenta legítima Dilma Rousseff. Durante as intervenções, dois policiais militares desmentiram que tenha ocorrido truculência por parte da PM, no campus da Unifesp, no que foram confrontados por professores da instituição e por representantes de movimentos sociais, que estiveram presentes no dia 11 de agosto. Os participantes da mesa de debates foram unânimes em relação à opinião de que se deve adotar uma postura e uma narrativa civilizadas e democráticas, ao contrário do que foi visto até o momento. “O autoritarismo é inaceitável e não é compatível com as questões relacionadas aos direitos humanos”, disse Telma. Além da vereadora e dos representantes da Adunifesp e da OAB, participaram como debatedores Wenderson Gasparotto, integrante do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana (Condep); os vereadores Francisco Nogueira (PT) e Sérgio Santana (PR), integrantes da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Câmara de Santos; Paulo Zocchi, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo; e Sérgio Sérvulo da Cunha, representante do Fórum da Cidadania. Convidado, o comandante-geral da PM na região, coronel Rogério Silva, não compareceu. Intimidação Tudo começou no dia 11 de agosto, quando alunos e professores da Unifesp foram surpreendidos durante a realização, no campus Baixada Santista, de audiência pública, convocada pelo Conselho Estadual da Condição Humana, para discutir o texto do Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos de São Paulo. Causou estranheza a presença de cerca de 100 policiais militares, fardados e à paisana, que estavam ali, de forma truculenta, para aprovar pautas no plano que limitam o conceito de direitos humanos na educação. O fato motivou Telma de Souza a convocar a audiência pública desta quarta. Imagens: Ailton Martins – Comunicação Livre & Direitos Humanos Foto: Produtora Flor de Sal