Contra a redução da maioridade penal, juventude "quer voar"

Pelo Brasil afora, pipas simbolizando a liberdade da juventude coloriram o céu em uma mobilização contra a proposta de redução da maioridade penal. Coletivos e movimentos sociais se reuniram para mostrar, por meio de intervenções, o quão ineficaz seria criminalizar os jovens em um país onde menos de 1% de atos contra a vida são cometidos por eles. Confira como foi a mobilização em São Paulo

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Pelo Brasil afora, pipas simbolizando a liberdade da juventude coloriram o céu em uma mobilização contra a proposta de redução da maioridade penal. Coletivos e movimentos sociais se reuniram para mostrar, por meio de intervenções, o quão ineficaz seria criminalizar os jovens em um país onde menos de 1% de atos contra a vida são cometidos por eles. Confira como foi a mobilização em São Paulo Por Ivan Longo, fotos e vídeo de Jeferson Stader Jovem, negra e de periferia, Simone Nascimento é bem direta ao comentar a Proposta de Emenda Constitucional 171 (PEC 171), que visa reduzir a maioridade penal no país de 18 para 16 anos. “É basicamente um estelionato social. A gente sabe muito bem quem vai para a cadeia: a juventude negra e periférica”, contou a estudante de 22 anos que milita no coletivo RUA, um dos organizadores do “Amanhecer contra a Redução da Maioridade Penal”, campanha criada para tentar barrar a proposta que está para ser votada na Câmara dos Deputados. IMG_3445Entre a madrugada de terça-feira e a manhã desta quarta-feira (29), intervenções urbanas foram realizadas em diversas capitais do país com o intuito de chamar a atenção da população para o tema. Além das faixas e cartazes de “Redução não é solução” espalhados por paredes, muros e pontes, pipas remetendo à juventude coloriram o céu em um gesto de liberdade. “A pipa remete muito à infância, à ideia de liberdade, de estar no ar, estar voando, indo sem limites. O lema da nossa campanha é esse, é 'Voa, juventude'”, explicou Jaime Cabral, militante do coletivo Arrua que, assim como Simone, estavam presentes na mobilização de São Paulo, que aconteceu no Vale do Anhangabaú. Cabral explicou que a campanha surgiu inspirada em uma iniciativa contra a redução da maioridade penal que barrou a aprovação da proposta, no ano passado, no Uruguai. Batizada de “No a la baja”, a campanha do país vizinho conseguiu construir um conjunto de argumentos para convencer parte dos mais de 60% de uruguaios que eram favoráveis à proposta a votarem contra em um plebiscito. No Brasil, não é difícil construir esses argumentos. Hoje o país já possui a 4ª maior população carcerária do mundo e a criança e o adolescente menor de 18 anos já contam com julgamento e punição para atos infracionais, inclusive com internação. Além disso, de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, apenas 0,01% dos adolescentes em privação de liberdade cometeram atos contra a vida. A tarefa da campanha é justamente de convencer, por meio de fatos concretos como esses, os mais de 80% brasileiros que são a favor da redução da maioridade penal, de acordo com pesquisa do Datafolha. “É muito triste saber que a grande mídia colocou dentro da cabeça da população que a redução da maioridade penal vai acabar com a violência no país. A gente, na verdade, está tapando um buraco que é de falta de educação, de espaços e de direitos”, afirmou Simone. “Nós sabemos aqui em São Paulo o que significam as penitenciárias. Na verdade, é o principal espaço de recrutamento de jovens para uma organização criminosa que todos nós sabemos que toma conta das penitenciárias”, completou Jaime. Confira imagens das mobilizações em outras partes do país aqui.