A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, demorou 9 dias para se pronunciar sobre o assassinato brutal do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, espancado com pauladas até a morte no dia 24 de janeiro próximo a um quiosque na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.
Cobrada a prestar assistência à família do refugiado do Congo, papel esperado de uma ministra que tem como responsabilidade atuar na defesa dos direitos humanos, Damares só comentou o caso nesta quarta-feira (2), e de maneira fria.
"Não dá pra vir pra rede social o tempo todo falar tudo o que estamos fazendo. Trabalhamos em silêncio, mas trabalhamos", escreveu a pastora evangélica ao compartilhar uma publicação da página oficial de seu ministério sobre pedido de informações sobre as investigações do caso feito pela pasta.
"Nosso ministério acompanha o caso e espera apuração rigorosa desse crime brutal. Aproveito para me solidarizar com a família e toda a comunidade congolesa residente no Brasil", prosseguiu, um tanto quanto atrasada, a ministra.
Prioridade de Damares é falar sobre "erotização precoce"
Ao longo desta terça-feira (1) Damares ignorou a principal notícia da imprensa nacional - as investigações sobre o assassinato do congolês - e se ocupou com um evento, promovido pelo seu ministério, de lançamento da “Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência”, em Brasília.
Durante o evento, foi lançado um programa de “prevenção primária do risco sexual precoce e gravidez de adolescentes”. Trata-se de um projeto baseado no discurso da ministra, que é antiaborto, inclusive o legal, sobre “erotização precoce“, que carrega teor parecido com a inexistente “ideologia de gênero” que Jair Bolsonaro dizia querer combater.
“Gente, esse ano vamos combater a erotização precoce. Os pais precisam ficar atentos”, escreveu Damares em suas redes sociais, enquanto o país cobrava justiça pelo assassinato de Moïse.
Na cerimônia de lançamento da campanha em Brasília, Damares, ainda, chegou a associar a gravidez infantil ao uso do aplicativo TikTok.
“Não vem papai e mamãe jogar no colo do Ministério da Saúde: ‘resolva, minha filha engravidou’, depois que deixou sua filha ir pro TikTok vender seu corpo. Uma coisa está muito atrelada com a outra”, disparou.
Assassinato bárbaro
Vieram à tona nesta terça-feira (1) as imagens da câmera de segurança do quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca (Rio de Janeiro), onde o refugiado congolês Moïse Mugenyi foi assassinado a pauladas após cobrar pagamento de dois dias de serviço no local.
No vídeo, obtido pelo jornal Extra e já sob análise da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), que investiga o caso, é possível ver que três homens espancam Moïse com chutes, socos e pauladas. As imagens mostram ainda que os agressores amarram o congolês pelos pés e mãos com pedaços de fio.
Após algum tempo de espancamento, uma mulher ainda se junta aos homens que agrediam Moïse para tentar reanimá-lo com uma massagem cardíaca. O refugiado, no entanto, morreu em decorrência das agressões.
Mais de oito pessoas já prestaram depoimento à DH (Delegacia de Homicídios da Capital). Um dos ouvidos foi o dono do quiosque, que não teve a identidade revelada. Ele negou envolvimento no crime e disse que estava em casa no momento da agressão que resultou na morte de Moïse. 3 suspeitos foram presos.
Lula comenta; Bolsonaro mantém silêncio
O presidente Jair Bolsonaro (PL) segue em silêncio sobre o assassinato bárbaro, a pauladas, do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, que causou grande comoção no país durante esta semana.
Lula (PT), por outro lado, publicou uma mensagem em suas redes sociais nesta quarta-feira (2) lamentando a morte do imigrante, e pedindo justiça e “desculpas” para a família dele.
“Moïse Kabagambe chegou criança ao Brasil, em 2012, e teve sua família acolhida aqui como refugiado. Nove anos depois, ao reclamar seu direito de trabalhador, foi covardemente assassinado. Devemos justiça, amparo, nossos sentimentos e desculpas para a família de Moïse”, escreveu o ex-presidente.