Disputa de memória: Comissão da Verdade da UFRJ lança série de vídeos sobre ditadura

Projeto busca combater o negacionismo e expor os impactos do período ditatorial em diferentes grupos sociais; Mulheres, racismo, favelas e população LGBTQIAP+ estão entre os temas da série

Série Incontáveis, produzida pela Comissão da Memória e Verdade da UFRJ | Foto: Divulgação
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A Comissão da Memória e Verdade da UFRJ lançou nesta semana o projeto Incontáveis, série audiovisual de seis capítulos sobre os impactos da ditadura cívico-militar-empresarial de 1964 em grupos invisibilizados. Os episódios tratam da violência da ditadura contra as mulheres, a população LGBTQIAP+, a população negra e moradora de favelas, os povos indígenas, os educadores e os trabalhadores do campo e da cidade.

O primeiro episódio da série foi lançado na quarta-feira (10) e já na abertura se destaca que o projeto surge como uma forma de responder àqueles que minimizam os impactos do período - chamando de "ditabranda" - e os que louvam a violência do Estado.

"Muitas histórias já foram contadas sobre aquele tempo, mas quantas histórias ainda falta contar?", questiona a narradora da série Incontáveis. O tema central desta primeiro episódio é a educação.

O historiador Lucas Pedretti, pesquisador da Comissão da Memória e Verdade da UFRJ, contou à Fórum como surgiu a ideia do projeto e falou sobre a importância de se discutir memória em um período em que o presidente da República, Jair Bolsonaro, louva os horrores do período ditatorial.

"A ideia do projeto surge quando a gente percebe o crescimento dessas narrativas de legitimação do golpe, da ditadura, da tortura. Diante desse cenário em que as pessoas perderam a vergonha em louvar a ditadura, a gente entende a importância de olhar para além da academia e construir uma iniciativa que dialogue com um público mais amplo, que tente aliar essa produção historiográfica de ponta com uma linguagem mais acessível para disputar terreno com o negacionismo", afirmou o historiador.

"Parte dessa legitimação da ditadura passa pela falsa ideia de que a ditadura teria sido branda, a chamada 'ditabranda'. Esse é um discurso negacionista. A nossa ideia é desconstruir isso e a aposta é que precisamos falar sobre como o conjunto da sociedade foi afetado, para além dos mortos e desaparecidos oficialmente reconhecidos. A gente pretende debater temas que são menos discutidos", explicou.

"Diversos setores da sociedade foram afetados pela violência do regime ditatorial", reforça o pesquisador. "A partir de raça, classe e gênero, a gente tenta ir por uma perspectiva menos explorada para combater o negacionismo".

A escolha pela produção de vídeos para o YouTube também surge com esse objetivo. "A ideia do audiovisual também surge porque a gente entende que é pelo meio virtual e por meio de produtos audiovisuais que essas narrativas de legitimação do golpe tem se espalhado, como a produtora Brasil Paralelo. Queremos disputar no mesmo espaço e com uma mesma linguagem, gratuito, no Youtube. Nossa linguagem não é de documentário", disse.

"Toda a série se relaciona com um momento de violência no presente. Bolsonaro busca dizer que o tempo da ditadura foi um 'tempo bom' para construir uma sociedade nos mesmos termos. O projeto de Bolsonaro é de aprofundamento da violência, perseguição de movimentos sociais, aprofundamento da desigualdade, conservadorismo, violência contra povos indígenas e a população negra. Disputar o passado também impacta no presente", completou Lucas Pedretti.

A Comissão da Memória e Verdade da UFRJ é coordenada pelo antropólogo José Sergio Leite Lopes e integra o Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. Os vídeos ficarão disponíveis no canal do Fórum da UFRJ no YouTube.

Confira o calendário dos episódios da série sobre a ditadura:

09/11 – Educação
16/11 – Trabalhadores
07/12 – Racismo e moradores de favelas
14/12 – População LGBTQIA+
11/01 – Mulheres
25/01 – Povos indígenas

Confira o primeiro episódio da série Incontáveis:

https://www.youtube.com/watch?v=MAscJ5ukayE