Efeitos da reforma trabalhista: Na Espanha, 1 milhão de jovens deixaram o país e 300 sindicalistas têm problemas na Justiça

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Em visita ao Brasil, o deputado do Podemos espanhol, Rafael Mayoral, fez um balanço dos efeitos da reforma trabalhista e do congelamento de gastos em seu país - duas medidas que o governo Temer importou para cá. Ligado ao movimento de moradia, no entanto, Mayoral enxerga um cenário para mudança: "Se retiram direitos sociais, haverá reação" Por Ivan Longo "Temos que criar laços de fraternidade comum entre os dois povos, fortalecer as lutas populares tanto no Brasil quanto na Espanha, por que temos questões que são comuns". Assim Rafael Mayoral, deputado pelo Podemos, partido de esquerda espanhol, iniciou sua fala em um encontro com jornalistas da mídia alternativa nesta sexta-feira (10) em São Paulo. Mayoral está no Brasil a convite da Frente Povo Sem Medo e do MTST, com quem mantém laços já há alguns anos. Isso por que o Podemos, que atualmente é uma das principais forças políticas da Espanha, nasceu de um movimento popular em 2014 em um cenário muito parecido ao que vive o Brasil: de crise econômica acentuada pela retirada de direitos de um governo com agenda neoliberal. A Espanha passou, exatamente como o Brasil, por uma reforma trabalhista e uma mudança na constituição que cortou verbas para programas sociais e congelou verbas para investimento em inúmeras áreas. Tal como a reforma trabalhista brasileira, que entrou em vigor neste sábado (11) e a PEC 281, a chamada "PEC do fim do mundo". "O próprio Temer assume que se inspirou na reforma trabalhista de Rajoy [Mariano Rajoy, primeiro ministro espanhol]. Não é à toa que o primeiro 'chefe de estado' que Rajoy visitou logo que se elegeu recentemente foi o Temer", revelou. De acordo com Mayoral, a reforma trabalhista espanhola contém as mesmas mazelas da brasileira: destruiu a negociação coletiva e a capacidade dos trabalhadores de negociar sua própria condição do trabalho, desvalorizou salários e impôs a precarização das condições de trabalho. Os efeitos, segundo o deputado, foram exatamente aqueles que os especialistas no tema analisam sobre a reforma trabalhista brasileira: "Há um empobrecimento, uma piora generalizada de todas as condições de trabalho para os assalariados e também para os não assalariados. Isso atinge em especial o setor mais jovem da classe trabalhadora", afirmou. Para se ter uma ideia, Mayoral revelou que cerca de 1 milhão de jovens foram "expulsos" da Espanha por conta da reforma trabalhista. Sem emprego ou contando apenas com vagas precarizadas, boa parte da juventude, desiludida, migrou do país visando garantir algum futuro. Além dos jovens, foram atingidos de forma mais dura também os sindicalistas. Na luta contra a reforma trabalhista e por melhores condições de trabalho, segundo Mayoral, cerca de 300 sindicalistas foram processados pelo Estado e mantém, até hoje, problemas com a Justiça. Para Mayoral, essa retirada de direitos é efeito de uma nova etapa do neoliberalismo mundial. "Vivemos um momento preocupante. Entre as elites econômicas, há uma aposta em apoiar governantes milionários", disse, citando a ascenssão de Trump nos Estados Unidos, de Macri na Argentina, do PPK no Peru, de Rajoy e de Temer. "Os milionários já não querem intermediários para exercer o poder político", completou. Sem direitos sociais, sem direitos políticos Ainda que a agenda neoliberal venha impondo uma ferrenha retirada de direitos sociais, seja no Brasil ou na Espanha, o cenário, para o deputado do Podemos, é de oportunidade. Otimista, Mayoral acredita que quando se ataca os direitos sociais, se ataca também, quase que automaticamente, os direitos políticos e civis e que, por isso, as pessoas terão que começar a se organizar. "A agenda neoliberal é um ataque aos direitos humanos, à democracia. Se tirar um direito social, tem que tirar direitos políticos. Se não retirar, haverá reação", argumentou, dando como exemplo a própria criação do Podemos na Espanha. Segundo ele, o governo começa a retirar direitos políticos e criminalizar vozes e movimentos por que vê que há uma reação à retirada de direitos sociais e, para o deputado, é dessa reação que deve surgir a "fraternidade popular". "Há esperanças. Acredito que os setores populares, que as forças populares possam construir sua fraternidade, a fraternidade popular contra aqueles que compartilham de outra agenda política. O que nós queremos construir é um projeto baseado na fraternidade popular, um país para todos e todas, e onde os direitos humanos seja ponto central em nosso programa político". Confira, abaixo, a íntegra do encontro de Rafael Mayoral com os jornalistas. Foto: NINJA