Lula: "Não quero favores. Quero simplesmente justiça"

Ex-presidente redigiu uma carta que foi lida por Fernando Haddad no ato internacional em prol de sua liberdade realizado no Dia dos Direitos Humanos

Foto: Ricardo Stuckert
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Centenas de pessoas acompanharam, na noite desta segunda-feira (10), um ato em prol da liberdade do ex-presidente Lula organizado pelo PT e por mais de 80 movimentos sociais e organizações que compõem a Frente Brasil Popular (FPB). Realizada no Sindicato do Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, onde Lula forjou sua liderança política, a atividade conta com a presença de políticos e lideranças nacionais e internacionais. O ex-presidente está preso desde abril deste ano por conta do controverso processo do “triplex do Guarujá”. A mobilização contra a prisão do petista usa como gancho o Dia Internacional dos Direitos Humanos, comemorado em todo o mundo nesta segunda-feira (10). Em uma carta endereçada à militância e que foi lida pelo ex-prefeito Fernando Haddad, Lula reafirmou seu compromisso com a pauta dos direitos humanos, lembrou a luta de líderes mundiais que, como ele, sofreram prisões políticas e tiveram seus direitos violados e disparou: "Hoje tenho certeza de que tenho o sono mais leve e a consciência mais tranquila do que aqueles que me condenaram. Não quero favores; quero simplesmente justiça. Não troco minha dignidade pela minha libertação". Confira a íntegra da carta. Meus amigos e minhas amigas, Esta é uma data muito especial para a humanidade. Há 70 anos, consagramos na ONU uma carta de direitos inspirada na solidariedade, no respeito ao semelhante, no reconhecimento às diferenças, no primado do direito e da liberdade, na busca da paz e do entendimento entre homens e mulheres e nações. Hoje é dia de celebrar o quanto avançamos, desde então, para implementar esses direitos. É dia de recordar os heróis dessa luta em todos as frentes: Martin Luther King, sacrificado pela defesa dos direitos civis; Nelson Mandela, que viveu 27 anos encarcerado pelo regime do apartheid; Mahatma Gandhi, que ainda antes da carta dos Direitos Humanos fez da não- violência a mais forte resistência ao regime colonial, e tantos outros que lutam no cotidiano por um mundo melhor. Aqui no Brasil, tivemos a oportunidade de colocar em prática muitos dos preceitos da carta, como a liberdade de organização e de expressão, o fim da censura, o reconhecimento dos direitos das mulheres, das pessoas LGBT. Começamos a resgatar a dívida secular com os negros e os indígenas. E condenamos firmemente a tortura. É muito triste, para mim, saber que nesta data temos de homenagear dois novos mártires da luta pelos direitos: os companheiros José Bernardo da Silva (Orlando) e Rodrigo Celestino, do MST, assassinados neste fim de semana no acampamento Dom José Maria Pires, na Paraíba. Peço a todos que prestem uma homenagem a esses heróis do povo brasileiro e da luta pelos direitos humanos. Eles foram vítimas do mesmo discurso de ódio e violência que atingiu Marielle e Anderson, mestre Moa do Katendê e o jovem Charlione Albuquerque, entre tantos outros que foram e são perseguidos e ameaçados. Estes heróis vão continuar vivendo em nossa luta. Em nome deles vamos defender as conquistas do nosso povo, pelo direito à vida em sua plenitude, contra a intolerância, o preconceito e o arbítrio. Oito meses atrás eu estava aí no Sindicato dos Metalúrgicos, cercado pelo carinho e solidariedade de milhares de companheiros e companheiras que não se conformavam com minha prisão arbitrária e injusta. Quero dizer que continuo com vocês e todos os dias penso no futuro do nosso povo. O Brasil e o mundo sabem que os procuradores da Lava Jato, o Sergio Moro e o TRF-4 armaram uma farsa judicial para impedir que eu fosse eleito presidente mais uma vez, como era a vontade da maioria dos eleitores. Fui condenado por “atos de ofício indeterminados”, ou seja: por nada. Não apresentaram uma prova contra mim e desprezaram todas as provas de minha inocência. Hoje tenho certeza de que tenho o sono mais leve e a consciência mais tranquila do que aqueles que me condenaram. Não quero favores; quero simplesmente justiça. Não troco minha dignidade pela minha libertação. Agradeço profundamente a solidariedade que recebo todos os dias, de pessoas do Brasil e de outros países. Agradeço aos companheiros da vigília Lula Livre, aos que mandam cartas ou me visitam em Curitiba, aos que fazem manifestações, redigem petições, atuam nas redes sociais exigindo o julgamento justo a que tenho direito. Estou consciente de que, mesmo nas condições difíceis que estamos vivendo, não só no Brasil mas em muitos países, a luta pela efetivação dos Direitos Humanos vai seguir adiante. Ainda iremos construir um mundo de paz e fraternidade, onde todos e todas, sem exceção tenham direito a uma vida digna. Até o dia do nosso reencontro, um abraço do companheiro Luiz Inácio Lula da Silva

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