Mãe que havia perdido guarda da filha foi vítima de intolerância religiosa, dizem advogados

Kate Belintani chegou a perder a guarda da filha de 12 anos após uma avó da garota, evangélica, ter feito denúncias infundadas sobre ritual de Candomblé, em Araçatuba (SP); guarda da criança foi recuperada

Ato no Rio de Janeiro contra a intolerância religiosa - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/Arquivo
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Em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, veiculada neste domingo (23), a manicure Kate Belintani disse ser vítima de intolerância religiosa após ter a guarda de sua filha retirada por participar de um ritual de Candomblé, em Araçatuba (SP).

Em julho passado, o terreiro de Candomblé onde Kate e sua filha de 12 anos realizavam uma celebração foi alvo de uma operação policial, em meio ao ritual.

Os pais de santo, Babalorixá Rogério de Ogum e Iyá Maria de Oxumaré, relataram que a abordagem foi realizada por sete viaturas e um dos agentes apontava uma arma para  a sacerdotisa do terreiro no momento em que ela abriu a porta para atender a campainha.

O corpo policial de Araçatuba foi acionado após ter recebido uma denúncia feita pela própria avó da menina de 12 anos, que é evangélica, e alegou à Justiça que a neta estaria sendo feita de refém no centro de Candomblé, podendo até mesmo estar sofrendo abusos sexuais por parte dos filhos de santo.

A situação em que a menina se encontrava, entretanto, era completamente distinta da denunciada pela avó. Segundo a Polícia Militar, a criança usava roupas brancas, não apresentava hematomas ou sinais de agressão e havia confirmado estar de acordo com a sua participação no ritual de iniciação em questão, apresentando postura serena.

Os cabelos da menina foram raspados de forma voluntária, segundo a mesma, pois o procedimento faz parte do ritual de iniciação no Candomblé.

A avó ainda recorreu à Justiça por uma segunda vez, na qual solicitou a guarda provisória da neta, enquanto as investigações referentes à denúncia eram feitas. Os agentes responsáveis pelo caso acabaram cedendo ao pedido da avó, mas revogaram a guarda e a entregaram novamente para a mãe após averiguarem que nenhuma das denúncias feitas condiziam com a realidade.

Kate afirmou, na entrevista, que há ignorância por parte da avó da menina perante a religião de matriz africana. Em contrapartida, o advogado da filha de santo, Hédio Silva Jr., afirma que o Conselho Tutelar induziu o público e o judiciário a erro, concluindo que aquele se tratava de mais um caso típico de intolerância religiosa.

Segundo a apuração feita pelo Fantástico, o disque 100, do Governo Federal, registrou um total de 411 denúncias de intolerância religiosa no Brasil em 2019.