Mulher negra resiste

A ABL, composta por 40 membros efetivos e perpétuos que são, em sua maioria, homens e brancos, não reconheceu a relevância do trabalho de Conceição Evaristo

Foto: Nandinho Lourenço
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“Eu Mulher Negra Resisto”. Foi sob este lema que no ano passado Conceição Evaristo foi reverenciada por sua contribuição literária às artes e, sobretudo, por sua trajetória, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Ela recebeu a maior honraria da Casa legislativa: a Medalha Pedro Ernesto, fruto de requerimento apresentado pela vereadora Marielle Franco. O evento contou com mais de 400 pessoas presentes, em maioria absoluta, mulheres negras. Um contraste à Casa que, historicamente, é ocupada por homens brancos. Diferentemente do que vimos acontecer esta semana na Academia Brasileira de Letras – ABL.  Conceição Evaristo formalizou sua candidatura após a mobilização de movimentos negros e feministas e da criação de uma petição na Internet que chegou a reunir mais de 25 mil assinaturas. Importante lembrar que Conceição é mestra em literatura brasileira pela PUC-Rio, doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autora premiada. Mas o principal de sua trajetória e obra é que, sendo uma intelectual negra, que nasceu na pobreza, ela busca contribuir para a autoestima e para que as mulheres negras se apropriem de sua identidade, dando os lugares de memória e as experiências de afeto como elementos importantíssimos em suas narrativas. A ABL, composta por 40 membros efetivos e perpétuos que são, em sua maioria, homens e brancos, não reconheceu a relevância do trabalho de Conceição Evaristo.  Enfrentar o racismo e trabalhar a identidade de mulheres negras não compõem o rol de atividades estabelecidas pela Academia. Mulher negra e de origem pobre não pode ocupar este espaço do “privilégio” dos intelectuais. Ao nos depararmos com o resultado e lembrarmos do evento promovido por Marielle é impossível não pensarmos no quanto de representatividade importa. Somente mulheres e mulheres negras farão outras ocuparem os espaços, irão levantar nossas pautas e, assim, nos fortalecer. Contra a tristeza do resultado da eleição da ABL temos o lema “mulher negra resiste”. E assim será. Todos os espaços serão ocupados, seja na Câmara ou nas Academias. Tentam nos silenciar e inviabilizar de muitas formas, mas não daremos nenhum passo atrás. Racistas e machistas não passarão!!