Movimentos populares lançam manifesto contra prisão de lideranças que lutam por moradia

Um grupo de entidades ligadas aos direitos humanos divulgou um documento contra a criminalização dos movimentos populares

Preta Ferreira - Foto: Reprodução
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Inúmeras entidades ligadas a movimentos populares divulgaram um manifesto em defesa das lideranças que lutam pelo direito à moradia, detidos no Deic, desde segunda-feira (24). Entre eles, foram presos Janice Ferreira da Silva, a Preta, Edinalva Franco Pereira, Angélica dos Santos Lima e Sidnei Ferreira da Silva. Preta é apresentadora do boletim Lula Livre. Vejam abaixo a íntegra do manifesto: Lutar não é crime! Moradia é direito! Manifesto de Resistência à Criminalização dos Movimentos Populares Mais uma vez, o Sistema de Justiça e o estado de São Paulo abrem as alas da violência institucional, que oprime o povo pobre que ousa resistir e lutar pela superação da desigualdade social e fazer valer o direito básico e constitucional de moradia. Neste 24 de junho, em operação repleta de constrangimentos ilegais e baseada em acusações dissonantes à realidade, o Poder Judiciário, policiais civis e o delegado do DEIC - Departamento Estadual de Investigações Criminais, sob o comando do governador João Doria, reprisaram o modus operandi da operação Lava Jato e se valeram da truculência policial na busca, apreensão e prisão de várias lideranças dos movimentos populares, numa flagrante criminalização dos movimentos sociais. Inscreva-se no nosso Canal do YouTube, ative o sininho e passe a assistir ao nosso conteúdo exclusivo A ação do DEIC executada pelo delegado André Vinicius Figueiredo teve como base denúncias anônimas e grampos telefônicos, num processo que corre em segredo de justiça, iniciado no inquérito que apurou as causas do incêndio e desmoronamento do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou no Largo do Paissandu, em maio de 2018. Vale ressaltar que nenhuma das pessoas detidas tinha qualquer relação com o edifício que veio abaixo. O Sistema de Justiça utiliza o subterfúgio de práticas ilícitas daquele prédio para perseguir lideranças e movimentos sem qualquer relação com o caso, e que possuem uma história, reconhecida nacional e internacionalmente, de defesa do direito à moradia. Além da prisão temporária de Angélica dos Santos Lima, Janice Ferreira Silva, Ednalva Franco e Sidney Ferreira, foram também determinadas 17 buscas e apreensões de lideranças das ocupações. Alega-se que práticas de cobrança para manutenção dos imóveis ocupados são feitas de forma ilícita. De acordo com o delegado responsável pelo inquérito, a investigação foi instaurada a partir de uma denúncia anônima realizada há cerca de um ano. Em sua coletiva de imprensa, no entanto, ficou nítida a inexistência de fundamento que embase as prisões. As ocupações mantidas pelas referidas lideranças realizam manutenção periódica e possuem infraestrutura validada inclusive pelas autoridades, além de possuírem estatuto, promoverem assembleias e prestação de contas. Há uma evidente tentativa de se utilizar do desastre ocorrido na ocupação do Paissandu para perseguir e intimidar outros movimentos de moradia da região do centro. As arbitrariedades do Poder Judiciário seguiram nesta terça-feira (25/6), com a demora por parte da Justiça em aceitar a constituição dos advogados de defesa, impossibilitando o acesso aos autos do processo, um claro cerceamento do direito de defesa. Esse é mais um capítulo da investida contra a classe trabalhadora e seus representantes, desencadeado com a prisão arbitrária do ex-presidente Lula, a partir de um conluio da justiça com o poder econômico para impor ao país um projeto antipopular. O direito à moradia tem sido alvejado com os cortes de investimentos e a desconfiguração do Programa Minha Casa Minha Vida. Ao desmonte das políticas públicas e à exclusão social se somam os ataques aos movimentos populares, que organizam a luta pelo direito à moradia e por um projeto democrático-popular para o país. A afirmação do direito à cidade, à moradia digna, e a presença dos pobres e trabalhadores nas ocupações da região central de São Paulo são atos de resistência diária contra a especulação imobiliária e a segregação social. Por isso, os diversos movimentos populares, sindicais, partidos políticos e organizações da sociedade civil conclamam a todas as pessoas defensoras da democracia e dos direitos sociais a se juntarem na jornada de resistência contra a criminalização da luta e em defesa da moradia como um direito. Para que a verdade seja a base da Justiça. O delegado e o Judiciário não podem dar crédito a denúncia de APROVEITADORES que buscam a proteção ilegal do poder público para não pagar despesas de água, luz, manutenção, segurança e limpeza do espaço de moradia. Exigimos de todas as autoridades competentes: A imediata libertação dos presos políticos e o fim da perseguição política, pelo Judiciário, contra a legítima luta dos movimentos populares. Assinam: CMP – Central de Movimentos Populares; FLM – Frente de Luta por Moradia; UMM – União dos Movimentos de Moradia da Grande Sâo Paulo e Interior; MMLJ – Movimento de Moradia na Luta por Justiça; Mulheres Negras na Frente; Levante Popular da Juventude; BR Cidades; UMM – União dos Movimentos de Moradia da Grande São Paulo e Interior; Marcha Mundial das Mulheres; Consulta Popular. Seu movimento, entidade ou associação apoia este manifesto? Envie sua adesão ao e-mail: [email protected]