“Não vamos sair de jeito nenhum”, afirmam Guarani Kaiowá ameaçados de despejo

Após recurso negado na Justiça, indígenas de Rio Brilhante (MS) foram comunicados pela Polícia Federal que o despejo será realizado. Funai deve recorrer e comunidade afirma que irá resistir

Foto: Cimi-MS
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Por Cimi  Pressionada pela Justiça e pela Polícia Federal, a comunidade Guarani e Kaiowá do tekoha – lugar onde se é – Laranjeira Nhanderu (Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul) afirma que está decidida a resistir ao despejo de parte de seu acampamento, determinado pela Justiça Federal de Dourados no dia 9 de novembro e reafirmado pela segunda instância em dezembro. “Nós não negociamos nada para sair daqui. A saída nossa é só para o cemitério. Esperamos que a Funai faça alguma coisa para nós não sairmos daqui. Se for o caso, nós vamos esperar a polícia, mas não vamos sair. Estamos dispostos a ficar”, afirma o cacique Taperýgua, liderança do novo acampamento no município de Rio Brilhante (MS) que corre risco de despejo. No final de outubro, parte da comunidade Laranjeira Nhanderu estendeu a retomada já estabelecida na área de reserva legal da fazenda Santo Antônio da Boa Esperança para a sede da propriedade, que incide sobre a terra tradicional reivindicada pelos indígenas. A decisão da primeira instância mantém aos indígenas o direito de permanecer na reserva de mata da fazenda, mas determinou que eles deixassem as demais áreas em 72 horas, sob pena de multa diária de dez mil reais à comunidade. A Fundação Nacional do Índio (Funai) recorreu à segunda instância, mas na semana passada o Tribunal Regional Federal da Terceira Região (TRF-3) manteve a decisão de despejar parte da comunidade, e reduziu a multa diária de dez para mil reais. A Funai busca novo recurso para suspender o despejo. No dia 12 de dezembro, logo após a nova decisão, lideranças da nova retomada foram a uma reunião na delegacia da Polícia Federal de Dourados, onde foram comunicadas que seria dado início ao procedimento de reintegração de posse, com solicitação de efetivo policial para cumprir a ordem judicial. Na reunião, os Guarani Kaiowá pediram à polícia mais dez dias de prazo. “Nós não estamos com medo, estamos preocupados, porque tem crianças e pessoas de idade aqui. Quando nos tiraram daqui em 2010, muita gente foi machucada” Risco de conflito e receio de ameaças Presentes na reunião, o fazendeiro e o arrendatário afirmaram que os indígenas estão impossibilitando o tratamento do gado criado na fazenda, o que os indígenas negam. “Por nós, eles podem cuidar o gado, nós nunca impedimos”, rebate Kunha’í Rendý’i. “Só que nós somos seres humanos, também somos importantes. Meu pai morreu aqui, em Laranjeira Nhanderu. Isso aqui sempre foi nosso e o fazendeiro nem mora aqui. Nós precisamos desse espaço para sobreviver, para ter o nosso alimento”. “O pessoal daqui não volta mais lá para o mato”, resume o cacique Taperýgua. Ele relembra o despejo de que a comunidade foi vítima oito anos atrás. Arrancados da área de mata que haviam ocupado, para a qual retornaram depois, passaram quase um ano vivendo de forma ainda mais precária às margens da rodovia mais próxima. “Nós não estamos com medo, estamos preocupados. Quando nos tiraram daqui, em 2010, levaram muita bala de borracha, cachorros, bombas para soltar na gente. Teve muita gente que foi machucada. A gente não tem medo, mas está preocupado, porque tem crianças e pessoas de idade aqui”, explica ele. São cerca de 38 famílias e aproximadamente 80 pessoas que correm risco de serem despejadas nos próximos dias. Nos vinte barracos erguidos na nova área da retomada, os Guarani Kaiowá afirmam que vivem pelo menos 34 crianças.