Patrícia Lélis: Sim, devemos questionar a igreja e principalmente os seus “membros”

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Em novo artigo na Fórum, a ex-militante do PSC escreve uma "Carta aberta a igreja, principalmente a Batista Ebenézer", com relatos pessoais. Leia Por Patrícia Lélis Era uma sexta-feira à noite, como de costume já estava deitada assistindo minha série no Netflix, e por algum motivo banal resolvi olhar as pessoas que assistiam meus vídeos no Instagram. Não faço isso geralmente, mas não sei por qual motivo, naquela noite me deu vontade de olhar para a carinha dos meus seguidores. Então eis que para a minha surpresa, me deparei com o seguinte perfil olhando todos os meus vídeos. Era o “@seminarioeuamocr”, e sinceramente fiquei até sem acreditar. Você não está entendendo nada não é mesmo? Calma, eu vou lhe explicar! A pessoa que cuida desse perfil é uma senhora que inclusive eu já a mencionei aqui em um dos meus textos, se chama Carla. Eu já havia a bloqueado no seu perfil pessoal, sinceramente não gosto de “crente fofoqueiro”. Porém como boa aquariana da “pá virada”, tirei print e postei tal fato, e dei um aviso diretamente a ela - aliás acho tão feio essa necessidade de ver o que uma pessoa que você não gosta posta. Pois, em poucas palavras, disse em bom tom a ela: “Deveria parar de fazer seminário sobre amar crianças, e começar a fazer um seminário de amor verdadeiro e respeito ao próximo, já que a mesma não consegue colocar em pratica amor e respeito com o próprio irmão gay”. Como era de te esperar, logo a tropa evangélica da Batista Ebenézer se levantou com muita raiva pois, veja bem, que dia, segundo eles, eu poderia dizer algo contra uma suposta mulher de Deus?! Já disse uma vez, e faço questão de repetir: Por anos eu tentei fazer parte do sistema da igreja, tentei não questionar o que acontecia lá dentro, tentei fazer parte, mas a verdade é que nunca consegui, e nunca fui aceita. Pedi desculpas quando achei necessário, porém nunca escutei isso dá outra parte. Ainda bem que não fui aceita, hoje entendo que o problema nunca esteve em mim, mas sim na forma que o evangelho é pregado e praticado. Logo diversos comentários começaram a surgir. Uma moça chamada Rebeka, que aparentemente diz que cresceu comigo, porém na verdade acredito que convivemos no máximo 4 anos, e logo no início da adolescência não tivemos mais contato, afirma que eu hoje falo dessa forma da igreja porque tive uma “criação mimada”. Vejam só, ela que se diz uma mulher muito integra e de Deus, a primeira coisa que faz é apontar e julgar o próximo por não dividir a mesma opinião. A mesma ainda afirmou: “Se ela quer ser feminista, que seja, mas não é aceitável que ela fale das líderes da igreja em rede social”. Pois bem, é tão aceitável que aqui estou eu, dizendo mais uma vez. O que mais me chamou atenção não foi o fato dessa moça ter dito algo sobre minha criação. Como minha mãe mesmo afirma: “Quem é ela para dizer sobre a criação de um filho que não é dela?”. Mas o que realmente me chamou atenção foi que começaram a surgir outros relatos, de pessoas que assim como eu, cresceram dentro da Ebenézer, com as mesmas pessoas, e também tiveram experiências absurdas, traumatizantes e tristes. E mais uma vez ressalto a importância sobre o expor, sobre o dizer. As pessoas têm a mania de querer ouvir só o lado bom das coisas, e não seria diferente com a igreja. Então comecei a me questionar sobre o motivo pelo qual essas pessoas não falam sobre suas verdadeiras experiências vividas nesse local, preferem se afastar da igreja, ir para outra, mas nunca escolhem expor os fatos. Até que uma dessas pessoas que expôs seu relato me disse: “Patrícia, se a gente fala qualquer coisa que vá contra eles, somos mais uma vez maltratadas e julgadas”. Pois bem, como eu não tenho o menor receio de ser “maltratada” ou julgada por pessoas religiosas, estou escrevendo isso em nome de diversas pessoas, que todos os dias são julgadas, maltratadas, e expostas por líderes religiosos, ou membros que se auto intitulam como íntegros, que não seguem a palavra de Deus, mas se acham o próprio Deus, dono de toda verdade. Ao contrário do que muito possam achar, conheço a bíblia de cabo a rabo, desde pequena fui ensinada que se tratava do livro mais sagrado. Posso não achar que seja um livro sagrado, é uma opinião pessoal, mas usarei versículos bíblicos para fazer esse texto, já que para essas pessoas é tido como um livro importante e sagrado. Em um dos relatos que me apareceram, um em especial me chamou bastante atenção, o da Ana Paula Lins. A Ana cresceu comigo dentro da igreja, a mãe dela era amiga da minha mãe, enfim, coisas normais de igreja. Crescemos e nos distanciamos um pouco, e há pouco tempo voltamos a nos falar. Quando ela me expôs o que aconteceu com ela, meu coração chegou a apertar. Ela se envolveu em um trágico acidente de carro que levou a morte de uma querida amiga, ela, por sua vez, saiu com graves ferimentos. Para muitos como eu, só isso já basta para pensar: “Deus te deu uma nova vida”, mas não foi bem assim que aconteceu, infelizmente. Algumas pessoas da igreja chegaram ao ponto de ir visitá-la no hospital e em casa e disseram a ela que tudo isso que havia acontecido era um “castigo de Deus”, e que ela seria a próxima a falecer, e no meio de todo esse acontecimento fatal e triste, ainda teve “irmãzinho” tendo visões horrorosas sobre a vida da Ana. Sim, eu sei que é difícil de acreditar, mas isso aconteceu mesmo. Fico me perguntando que Deus é esse castigador, sendo que Deus é amor. Não faz muito sentindo, não é mesmo?! Nessas horas que vejo que as pessoas usam a parte da bíblia que mais lhe convém. A todas essas pessoas que disseram essas duras palavras a Ana, gostaria de lhes deixar um versículo como dica de leitura: 1 João 4:7/8. Sei que uma boa parte de desinformados vão achar que escrevo esse texto com algum tipo de raiva, ou mágoa, mas não é isso, é exatamente o oposto. Hoje esse texto é representando não apenas a mim, mas todas as pessoas que de alguma forma um dia foram oprimidas dentro da igreja. Se alguém acha que estou aqui de alguma forma exagerando, ou aumentando as coisas, os convido para visitar Projeto Redomas (https://projetoredomas.wordpress.com/ ), onde infelizmente é possível ler relatos reais, porém tristes, das diversas formas de abuso que existe dentro do meio cristão. E não falo apenas de abuso sexual, mas também do abuso psicológico. Eu creio que as pessoas são um reflexo da igreja, e como eu não poderia deixar de falar, tenho ótimas lembranças da Igreja Batista Central, onde me lembro com muito carinho do amor que o Pastor Vilarindo passava para os seus membros, e como uma “avalanche” os membros repassavam isso a outros membros, e disso era feito um ciclo de amor. Eu serei eternamente grata a algumas “tias” da igreja que sempre transbordaram o amor de Cristo, compreensão e que passavam o verdadeiro significado da palavra de Deus para a vida das pessoas, em especial as “tias” Carminha e Luzia. Meus profundos agradecimentos, amor e respeito. Sempre irei repassar a outras pessoas o ensinamento que ambas me deram, que Deus é maior do que qualquer religião. Não posso pedir perdão a todos os jovens que de alguma forma foram magoados e feridos dentro da igreja. Mas posso dizer a vocês: continuem firmes, não se deixem ser enganados por falsos profetas, por pessoas invejosas, não se deixem ser menosprezados ou abusados por pastores e líderes. Deus não deixou de amá-los por você ter se afastado da igreja. Não existe problema algum se você não quer ter religião, o problema é você se auto intitular integro, mas não aceitar uma crítica sem querer menosprezar quem o criticou. Dedico esse texto a todas as Kemilly´s, Rachel´s, Ana´s, Rodrigo´s, Vilmara´s, Ella´s, Hanna´s, Walkyria´s, Iri´s, Juliana´s, Gésyka´s, Paula´s, Jeniffer´s e Patrícia´s. Escrevi esse texto pensamento em cada pessoa que me enviou um triste relato sobre sua experiência com pessoas religiosas. Em João 13 v. 35, está escrito: “Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus seguidores”, e isso não quer dizer que você tem que se calar perante as atrocidades cometidas com você. E a todos os líderes e pastores que pregam o amor de Cristo como os queridos Pastores Caio Fábio, Alexsandro Nascimento e principalmente a Pastora Romi Bencke , ue foi a responsável por me apresentar um evangelho muito mais leve, amoroso e com um viés feminista. Meus eternos agradecimentos, amor e carinho. Tenho certeza que se houvesse mais de vocês dentro das igrejas, a religiosidade não teria tanta força. E lembre-se: preocupe-se em estar bem com Deus, e não com os homens. Se nem Jesus agradou a todos, imagino que não vai ser eu ou você que vamos conseguir tal proeza. Mas independentemente de qualquer coisa, questione o sistema ao qual sua igreja e seus líderes te impõe. Foto: Mari Rosa