Perseguido como suspeito, jovem negro que praticava fotografia denuncia racismo em Jundiaí

Gabriel Souza, de 17 anos, é amante da fotografia, trabalha na borracharia da família e virou alvo de grupos de Whatsapp de moradores do bairro Eloy Chaves

Gabriel Souza - Arquivo Pessoal
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Amante da arte de fotografar, o jovem negro Gabriel Souza, de 17 anos, está sendo perseguido por moradores do bairro Eloy Chaves, em Jundiaí, interior de São Paulo, onde trabalha com seu pai, na borracharia da família. De acordo com reportagem de Guilherme Seto, da Folha de S.Paulo, em uma de suas primeiras saídas com o equipamento fotográfico recém-adquirido, Gabriel se tornou alvo de grupos de moradores da região. Certo dia, durante seu trabalho na borracharia, o jovem se encontrou com um cliente, que mostrou uma lista de mensagens do grupo de Whatsapp do seu condomínio. Lá, estavam fotos em que aparecia Gabriel fotografando, acompanhadas de mensagens em que ele era tratado como alguém com “comportamento suspeito”. “Quem encontrar esse rapaz por favor ligar para o 153 (número da Guarda Municipal), esse indivíduo está tirando foto das casas”, dizia uma das mensagens. As fotos de Gabriel, no entanto, mostram que seu interesse não estava nas residências dessas pessoas, mas na casa de um pássaro joão-de-barro na árvore. Gabriel se sentiu ameaçado, pois passou a observar viaturas da guarda passando e olhando para dentro da borracharia, como se o estivessem procurando. Preocupado, o jovem foi a duas delegacias na companhia do pai e de seu professor de fotografia, Anderson Kagawa. Contudo, não conseguiu registrar um boletim de ocorrência. Preconceito “Eles disseram que não havia crime e se negaram a tomar providências. Em uma delas, sugeriram que eu tirasse uma foto com uma folha de papel sulfite com o meu nome escrito por extenso, para evitar problemas no futuro. Queriam me fichar”, declarou. “Em outra delegacia, disseram que eu deveria ficar uma semana sem fotografar. Depois disso, deveria andar com um certificado de algum curso de fotógrafo, um crachá, nota fiscal da câmera, e andar acompanhado”, disse. “Tem preconceito envolvido, sim, na minha visão. O Eloy Chaves é um bairro que tem muitos fotógrafos, conheço vários deles, estão sempre pela rua, e isso nunca tinha acontecido, e eles são brancos”, denunciou. Gabriel resolveu ir a São Paulo, nesta quarta-feira (9) para conversar com advogados sobre quais providências judiciais pode tomar.