Pesquisa aponta que 78% dos mortos por policiais em 2020 eram negros ou pardos

O levantamento indica, também, que os estados brasileiros não sabem ou não querem informar a raça de mais de 1/3 das vítimas fatais das polícias militar e civil no ano passado

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Uma pesquisa, divulgada nesta sexta-feira (23), aponta que, durante 2020, 78% dos mortos pelas polícias militar e civil eram negros, ou seja, quatro a cada cinco pessoas assassinadas.

O levantamento foi feito com exclusividade pelo G1, dentro do Monitor da Violência, uma parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Núcleo de Estudos da Violência, da Universidade de São Paulo (USP).

Os números se baseiam nos confrontos com civis ou lesões não naturais com intenção envolvendo policiais em atividade.

A pesquisa indica, também, que os estados brasileiros não sabem ou não querem informar a raça de mais de 1/3 das vítimas fatais das polícias em 2020.

Onze unidades da federação não divulgam dados a respeito de raça/cor das vítimas das duas corporações. Mesmo nos estados que disponibilizam os dados, há vários casos de “raça não informada”.

Na opinião de Felipe Freitas, pesquisador do Grupo de Pesquisa em Criminologia da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, a falta de informações impede a formulação de políticas públicas democráticas em segurança.

“Nas áreas da saúde e da educação, por exemplo, só foi possível avançar em uma agenda de enfrentamento ao racismo à medida em que se qualificaram os instrumentos de registro das informações, que permitiram identificar a desigualdade racial”, relata.

Racismo estrutural

Para o pesquisador, o racismo estrutural é a causa principal que explica por que a polícia mata mais negros e pardos. “O peso das representações negativas e dos estereótipos em relação às pessoas negras produz socialmente essa autorização para matá-las”, analisa.

Contudo, aspectos técnicos relacionadas à dinâmica entre a polícia e o Judiciário também influenciam esse cenário.

“O modelo de policiamento brasileiro é ostensivo, de grandes operações e de flagrante. E a atuação do policial na rua é muito influenciada pelas práticas discriminatórias que estão presentes na sociedade. Assim, há um alto grau de discricionariedade no contato com a população. E o Judiciário é muito frágil em estabelecer balizas para a ação policial”, reflete Freitas.