"Só racismo explica a fúria", diz pai de João Alberto, assassinado por seguranças no Carrefour

Familiares do homem negro brutalmente assassinado em supermercado de Porto Alegre se reuniram com deputados da comissão externa da Câmara que acompanham o caso

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Deputados da Comissão Externa da Câmara dos Deputados que apura o assassinato de João Alberto, homem negro espancado até a morte por seguranças de uma loja Carrefour em Porto Alegre (RS), se reuniram com os familiares da vítima, nesta terça-feira (1), na capital gaúcha.

O encontro, que respeitou protocolos de segurança contra o contágio da Covid-19, contou também com a participação de movimentos sociais ligados à causa negra e vereadores eleitos de Porto Alegre.

A ideia da reunião, de acordo com a Comissão da Câmara, é acompanhar as investigações do crime de perto para que os autores não passem impunes e também discutir propostas para aprimorar e criar novas leis que tratem sobre o racismo.

"A família destacou sobretudo a preocupação para que não fique impune, e também que a vítima é sempre condenada, sempre procuram coisas que possam atacar a vítima. Isso é um absurdo. Esse pai falou hoje por todos os pais de vítimas do Brasil. Muito forte o pedido dele por justiça. Ele acredita que foi um crime de racismo, um crime de ódio", disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS), que compõe a Comissão, sobre o depoimento de João Batista, pai de João Alberto.

“A gente nunca imagina que vai acontecer, eu só espero justiça. Foi racismo! Só o racismo explica a fúria com que eles atacaram meu filho", disse ainda João Batista, segundo o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que também faz parte da Comissão.

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), primeira senadora negra da história do Brasil, também esteve presente no encontro. "Absolutamente nada justifica a morte de João Alberto. Casos como esse ocorrerem no Brasil inteiro e fazem parte da mesma história. As mortes dele e de tantas outras vítimas não serão em vão", afirmou a parlamentar.

Após o encontro com familiares de João Alberto, vereadores da capital gaúcha e movimentos sociais, a Comissão Externa se reuniu com juristas, membros do Judiciário e do Executivo, como o Superintendente da PF no RS, José Antônio Dornelles de Oliveira, e o Defensor Público Geral do Estado do estado, Antônio Flávio de Oliveira. Os deputados terão ainda uma audiência com o governador Eduardo Leite (PSDB).

Além de acompanhar o andamento das investigações sobre o assassinato bárbaro, um dos objetivos da visita técnica dos deputados é discutir propostas que tramitam no Congresso que tratam sobre o tema do racismo. Um projeto de lei de Orlando Silva (PL 5160/2020), por exemplo, visa punir estabelecimentos e empresas em que sejam registrados casos de racismo.

"Um dos meus compromissos como homem negro e deputado federal é com a luta da negritude por igualdade. Por isso, apresentei o Projeto de Lei 5160/2020, que responsabiliza o fornecedor de produtos e serviços por atos de racismo ou discriminação praticados em seu estabelecimento, além de obrigá-lo a capacitar seus funcionários para que não pratiquem tais atos", afirma o deputado, que lançou uma petição online para dar mais força à sua proposta.

Até o momento, foram presos de forma preventiva os dois seguranças terceirizados que participaram do espancamento de João Alberto, Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges, além da fiscal do Carrefour, Adriana Alves Dutra, que aparece nas imagens que registraram o crime. A Polícia Civil do RS segue investigando o caso.

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