SEM PÂNICO

Abílio Diniz: "mercado fica nervoso à toa"

Empresário afirma que não há motivo para pânico no mercado financeiro. Economista da Universidade Johns Hopkins reforça críticas à reação de acionistas e afirma que posição do mercado é ideológica.

Abílio Diniz.Empresário pede calma ao mercado e diz que não há razão para pânico. Créditos: Divulgação
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O empresário Abílio Diniz afirmou à CNN Brasil que o "mercado fica nervoso à tôa" e é "muito sensível", referindo-se às oscilações na bolsa de valores e no valor do dólar após as declarações do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no discurso transmitido ao vivo nesta quinta (10) durante reunião do gabinete de transição. Diniz disse, ainda, não ver razão para que haja "pânico neste momento".

Integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social a convite do presidente Lula a partir de 2003, o acionista do Carrefour Brasil complementou que a prioridade dada por Lula à questão social nunca foi segredo, bem como sua intenção de fazer política voltada sobretudo aos mais pobres, como prometeu durante a campanha eleitoral.

Diniz argumentou que apesar dessas prioridades, o presidente eleito sabe das "dificuldades" enfrentadas pela economia nacional, de forma que vai olhar sempre para que não se gere inflação, sabendo que "não podemos estourar demais as despesas sem ter uma receita equivalente".

Não há razão para pânico

"Não há nenhuma razão para ter pânico nesse momento. O Lula sempre falou que ele vai olhar para o social. Agora, ele é uma pessoa que sabe, ele teve oito anos bons de governo, ele sabe as dificuldades que nós temos, sabe que não podemos gastar demais, sabe que isso vai gerar uma inflação muito grande."

O empresário avaliou que a elite brasileira não é contra políticas sociais ou que haja uma melhor distribuição de renda, mas que há uma preocupação de que sejam feitos "gastos excessivos e que isso pode gerar inflação".

Posição do mercado é ideológica

A economista e professora da Universidade Johns Hopkins Marcela Bolle também teceu críticas ao mercado em matéria do jornal O Globo desta sexta (11). Bolle explicou que o sobe-e-desce da bolsa e do dólar não querem dizer nada e que os acionistas fazem tais movimentações para ganhar dinheiro. Ela disse esperar que isso não atrapalhe a transição. 

Na avaliação da professora, os economistas de mercado têm uma visão míope e a posição do mercado é ideológica, pois não apresentou tais oscilações diante de situações que considera muito mais graves, como o Orçamento Kamikaze ou o Orçamento Secreto.

Acontece sempre em eleições

Para o presidente eleito do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ), Marcelo Pereira Fernandes, o mercado vive de especulação e está aproveitando esse momento em que ainda não foi anunciado o ministro. "Isso acontece em toda eleição."

Fernandes discorda, entretanto, da leitura de Abílio Diniz de que gastos governamentais podem gerar inflação, considerando esta opinião uma visão ideológica: "Gastos do governo para o 'mercado' significam maior intervenção estatal, algo contrário ao neoliberalismo. Gastos podem causar inflação quando a economia está em pleno emprego (dos fatores de produção, terra, capital e trabalho). Mas esta é uma situação específica que não é evidentemente o caso do Brasil".