Anunciado como o grande trunfo do governo Jair Bolsonaro (PL) na gestão da Petrobras, o lucro exorbitante de R$ 106,6 bilhões em 2021 - dos quais R$ 101 bi foram parar nas mãos de acionistas - explica em grande parte a política adotada pela estatal que resultou na explosão de preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha.
A adoção da chamada Política de Paridade de Importação (PPI) pela Petrobras em outubro de 2016, durante o governo Michel Temer (MDB), o governo brasileiro abriu mão da sua política de segurança energética - desconsiderando a importância do papel estratégico do petróleo - para atrelar o preço dos combustíveis ao mercado, que nada mais do que atender aos interesses das grandes empresas privadas do setor.
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Dessa forma, o custo de produção do petróleo pela Petrobras - uma das principais variáveis que entra no cálculo dos combustíveis - estimado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) em R$ 152 por barril em 2021 (cerca de US$ 28,3) foi dolarizado para acompanhar as oscilações do produto no mercado internacional, que bateu US$ 130 em meio à guerra na Ucrânia e fechou a US$ 115 na quinta-feira, 10 de março de 2022.
Atuando como uma empresa privada, a Petrobras precisa dolarizar seu custo de produção do petróleo, que é extremamente baixo, equiparando a valores muito mais altos investidos pelas petrolíferas transnacionais, que ainda estão sujeitas à questões políticas - e de guerra - em países onde há exploração.
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Importante ressaltar que em 2021, 91% do petróleo processado nas refinarias da Petrobras foram produzidos no Brasil ao custro de R$ 152 o barril - ou cerca de US$ 28 dólares. O lucro da estatal se deu justamente na diferença do preço cotado no mercado internacional, de cerca de US$ 80 à época, o que garantiu os dividendos exorbitantes aos acionistas.
Refino e logística
Outra variável é o custo de refino do petróleo: a transformação do petróleo em derivados, como gasolina e diesel. A Petrobras vinha otimizando seu parque refinador como um todo para a produção dos derivados mais demandados no Brasil, mas a partir do governo Temer começou a privatizar as empresas já instaladas.
Outro fator levado em conta na precificação dos combustíveis, a distribuição foi 100% privatizada com a venda da BR Distribuidora, no plano de desmonte da empresa.
Segundo dados da FUP, em 2021, o custo médio operacional do refino, transporte e comercialização da Petrobras foi de R$ 209 reais por barril (cerca de US$ 38).
Os custos são contabilizados em: 1) carga processada (72,3% do total); 2) derivados importados (7,8% do total); 3) operacionais do refino (4,4% do total); 4) depreciação das refinarias (8,5% do total); e 5) despesas gerais (7% do total).
Dessa forma, a estatal obteve uma margem operacional de 44,2% e uma margem sobre o lucro líquido de cerca de 22,4%, chegando ao valor de R$ 106,6 bilhões, dos quais mais de 95% foram distribuídos aos acionistas.