PETROBRAS

Após "lucros exorbitantes", Bolsonaro pode mudar preços dos combustíveis por oportunismo

Críticos do modelo de paridade com o dólar enxergam uma manobra puramente eleitoreira do presidente, que já deveria ter abaixado os preços dos combustíveis há tempos

Jair Bolsonaro e o presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna.Créditos: Alan Santos/PR
Escrito en ECONOMIA el

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta segunda-feira (7) que pode promover mudanças na política de preços da Petrobras, uma reivindicação de sindicalistas e parlamentares de oposição desde o início do governo. Para quem levanta há tempos a bandeira contra o modelo de paridade com o dólar, Bolsonaro devia ter modificado a orientação da Petrobras e abaixado o preço dos combustíveis desde o início e age agora por puro oportunismo eleitoral.

Durante entrevista a uma emissora de rádio de Roraima, Bolsonaro admitiu que a política de preços vigente - estabelecida desde a gestão de Michel Temer (MDB) - está errada e, pela primeira vez, declarou que ela não pode seguir como está. Antes, o presidente evitava encarar de frente a questão e responsabilizava estados e municípios pelo preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, em razão do imposto do ICMS. Bolsonaro afirmava que ele não tinha como fazer nada, mas parece que agora entendeu que deve mudar a política.

"Tem uma legislação errada feita lá atrás que você tem uma paridade com o preço internacional [dos combustíveis]. Ou seja, o petróleo, o que é tirado do petróleo, leva-se em conta o preço fora do Brasil. Isso não pode continuar acontecendo", disse Bolsonaro durante a entrevista. 

“O barril está em 120 dólares, a paridade do preço internacional é errada. Isso está sendo tratado mais uma vez hoje em reunião. Para achar uma solução e não ficar empurrando com a barriga. Se for repassar isso tudo, tem que dar aumento de 50%. Vamos falar em reunião hoje à tarde com o ministro da Economia e procurar uma solução”, acrescentou.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da Minoria no Senado e da Frente Parlamentar da Energia, foi um dos que criticou Bolsonaro. O parlamentar enxergou oportunismo eleitoral e afirmou que essa mudança acontece somente após acionistas da Petrobras embolsarem lucros recordes. 

"Mais uma evidência de que Bolsonaro está em completo desespero, ainda mais em ano eleitoral. O governo agora, de forma oportunista, parece admitir mudanças na fórmula de preços da Petrobrás", disse Jean Paul em nota. "É impressionante como este governo é incompetente e irresponsável. Há anos, o PT denuncia a paridade de importação como culpada pelos altos preços pagos pela população no gás de cozinha e nos combustíveis. O governo esperou o stress máximo de uma guerra global para reconhecer finalmente que estava escorchando os brasileiros com preços de combustíveis que anulam a autossuficiência e a produção brasileira", criticou o senador.

Jean Paul, que é o relator dos PLs dos Combustíveis, defende que o Congresso estabeleça um programa da estabilização do preço do petróleo e de derivados no Brasil e a ampliação do programa de vale-gás. Os avanços empreendidos pelo parlamentar no texto podem ter pressionado Bolsonaro a agir antes que um parlamentar do PT fizesse o que o governo já deveria ter feito.

"O Governo Bolsonaro lucrou enormemente com o preço dos combustíveis altos e dolarizados. E ainda recebeu dividendos recordes, de uma Petrobras que só lucrou em cima do sacrifício dos consumidores e do frete nacional. Bolsonaro quer enganar o povo brasileiro com esse falso arrependimento achando que, se vencer as eleições, vai voltar a lucrar e fazer seus poucos amigos mais felizes e ainda mais ricos!", completou.

O dirigente sindical Deyvid Bacelar, coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), também criticou a declaração do presidente, apontando que se Bolsonaro quisesse realmebnte mudar o PPI, já teria feito desde o início de seu mandato. "Mas o governo preferiu manter essa política que só serve para enriquecer acionista e empobrecer o trabalhador brasileiro, que amarga inflação de 10% ao ano, puxada principalmente pelos combustíveis", afirmou..

"O tema que mais atinge a população brasileira é a disparada dos preços dos combustíveis por causa da política injusta do PPI adotada pelo ex-presidente Michel Temer e mantida com afinco  por Bolsonaro. Apesar de ele dizer que não tem como interferir  nos preços, as indicações na presidência da Petrobrás e no conselho de administração da empresa são feitas por Bolsonaro", acrescentou.

Preço de combustíveis subiu cinco vezes mais que inflação no governo Bolsonaro, diz Dieese

O preço dos combustíveis explodiu no governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), empurrado pela desastrosa política de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras - adotada desde o governo Michel Temer (MDB). Diante da inércia do governo, coube ao Congresso, através de parlamentares de oposição, se mobilizar pra derrubar a PPI e criar o programa de amortização do preço dos combustíveis relatado por Jean Paul.

Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), desde janeiro de 2019, início da gestão Bolsonaro, a gasolina teve um reajuste de 116% na refinaria. Isso representa cinco vezes a inflação, de 20,6% no período. No gás de cozinha, a alta foi de 100,1%, e no diesel, de 95,5%, de acordo com dados da Petrobras.

Os aumentos nas refinarias repercutem no bolso do consumidor. Segundo o Dieese, desde janeiro de 2019, o preço da gasolina subiu 52,8% nos postos de revenda, o diesel, 63,6%, e o GLP, 47,8%, muito acima também do reajuste do salário mínimo, de 21,4% no período. O levantamento foi feito com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).