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“Bolsonaro escolheu outro defensor de privatizações para Petrobras”, diz dirigente da FUP

Indicação de José Mauro Coelho desagradou aos petroleiros: “Ele vai trabalhar para entregar a Petrobras à iniciativa privada”, afirma Deyvid Bacelar

O indicado de Bolsonaro.Créditos: Saulo Cruz/Ministério de Minas e Energia
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O nome de José Mauro Ferreira Coelho, ex-secretário do Ministério de Minas e Energia, indicado por Jair Bolsonaro (PL) para a presidência da Petrobras, desagradou à Federação Única dos Petroleiros (FUP).

“Vejo a indicação com grande preocupação. Parece mais um burocrata, conveniente, cordato e defensor das privatizações e da atual política de preços dos combustíveis”, afirma Deyvid Bacelar, coordenador-geral da entidade.

“Ele vai fazer exatamente o que o governo federal quer, que é trabalhar para entregar a Petrobras à iniciativa privada, mas nós não vamos deixar”, alerta.

Bacelar lembra que, em audiência pública sobre desinvestimentos da Petrobras, em junho de 2021, Coelho chegou a comentar sobre o “sucesso” dos desinvestimentos da empresa nas regiões Norte e Nordeste, falando em “mais empregos” nas regiões.

Porém, um estudo do economista Cloviomar Cararine, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), realizado a pedido FUP, mostrou justamente o contrário: a estratégia resultou em desemprego e redução de receita gerada pelas atividades nessas regiões.

De acordo com o estudo, de 2013 a 2020, houve redução de 65% no número de trabalhadores próprios da Petrobras nas regiões Norte e Nordeste, enquanto no Sudeste a queda foi de 26%.

Quando se trata de trabalhadores terceirizados, houve perda de mais de 22 mil vagas de trabalho, redução de 48%. “A perda de empregos é um dos impactos mais perversos do processo de privatização da Petrobras”, afirma o sindicalista.

A venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) para o grupo Mubadala, chamada agora de Refinaria de Mataripe, é outro caso que, segundo o representante dos petroleiros, mostra o fracasso de se privatizar setores estratégicos.

“Hoje, essa refinaria aumenta o preço dos combustíveis com mais frequência do que a própria Petrobras, pois não tem nenhum compromisso social como uma estatal tem. Uma empresa privada só tem compromisso com o lucro”, reforça Bacelar.

O coordenador da FUP acredita que a escolha de Coelho indica que Bolsonaro escolheu um nome de sua confiança para tratar não apenas da privatização da Petrobras, mas da questão dos preços dos combustíveis, que atinge profundamente o presidente no processo eleitoral.

“Coelho vai seguir o projeto implementado pelo governo, que é de privatização da empresa e aumento dos lucros para distribuir aos acionistas. Isso é muito contra o povo, que acaba perdendo a empresa (estatal) e pagando absurdos nos preços dos combustíveis”, comenta.

Bacelar reforça que não se aumenta investimentos vendendo o que se tem

“Não somos contrários a investimentos privados, mas queremos que eles construam novos ativos no país”, afirma o petroleiro.

Na avaliação do dirigente, privatizar empresas e ativos públicos é “trocar seis por cinco”, pois os agentes privados investem menos e empregam menos.

“É uma mentira quando Coelho fala na audiência que a venda de ativos aumenta investimentos e empregos. O campo de Riacho do Forquilha, no Rio Grande do Norte, por exemplo, empregava 750 trabalhadores, entre próprios e terceirizados da Petrobras. O número caiu para 400 pessoas depois da privatização, reduzindo a massa salarial e a geração de riqueza e renda das economias locais”, destaca.

“Estão todos envolvidos em lobbies e atendem a empresas interessadas em ‘sugar’ a riqueza da estatal. Precisamos abrasileirar o preço dos combustíveis. Não adianta mudar a presidência da empresa sem mexer no Preço de Paridade de Importação”, acrescenta Bacelar.