ECONOMIA

BC, de Campos Neto, afronta Lula e fala em "interrupção do ciclo de queda" da Selic em ata

Copom culpa a tragédia no RS pela "perspectiva de inflação" e diverge da própria análise, baseada na pesquisa Focus com banqueiros, dizendo estar "surpreso" com atividade econômica e emprego

Lula, Haddad e Campos Neto na reunião do G20.Créditos: Ricardo Stuckert/PR
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Na ata em que busca justificar a manutenção da taxa Selic em 10,5%, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, comandado pelo bolsonarista Roberto Campos Neto, afrontou diretamente o presidente Lula e fala em interrupção do ciclo de queda na taxa básica da economia, que foi mantida após nove reduções sucessivas.

"O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela", diz a ata.

Embora admita "a evolução do processo de desinflação", o Copom usa projeções do boletim Focus, uma pesquisa semanal feita com banqueiros e agentes do sistema financeiro, para apontar a "ampliação da desancoragem das expectativas de inflação" - uma perspectiva sobre a alta dos preços - como uma das justificativas para interromper a queda da Selic.

Ao traçar os "cenários e análise de riscos", os economistas do Copom falam da adversidade do mercado "em função da incerteza com relação ao ciclo de queda de juros norte-americano e à persistência do processo desinflacionário nas principais economias" e culpam a tragédia climática no Rio Grande do Sul pela possibilidade do aumento de preços no Brasil.

"O Comitê avaliou que os dados referentes à inflação sugerem uma trajetória que não divergiu significativamente do que era esperado. Alguns membros mostraram maior preocupação com a inflação de alimentos no curto prazo, destacando não só o efeito das enchentes do Rio Grande do Sul, como também revisões nos preços de alimentos em outras regiões", diz o texto.

O Copom, no entanto, diverge da própria análise, calcada na perspectiva dos banqueiros no boletim Focus, ao apresentar o cenário real da economia brasileira sob o governo Lula, que segundo a ata "surpreenderam" o mercado.

"Ao longo dos últimos trimestres, os dados de atividade econômica surpreenderam, com maior crescimento em diferentes componentes da demanda. Ressaltou-se a resiliência da atividade doméstica e a sustentação do consumo ao longo do tempo, em contraste com o cenário de desaceleração gradual originalmente antecipado pelo Comitê. Com relação aos dados na margem, por um lado, observaram-se novas surpresas altistas na atividade. Tais surpresas concentraram-se na formação bruta de capital fixo e no consumo das famílias, sustentado primordialmente pelo mercado de trabalho, benefícios sociais e pagamentos de precatórios", diz o texto, citando justamente as políticas sociais, que contribuem para aumento do consumo das famílias e, consequentemente, para a atividade econômica.

"O Comitê novamente avaliou que há surpresas recorrentes apontando para elevado dinamismo do mercado de trabalho, corroborando um cenário de mercado de trabalho apertado", diz ainda o Copom sobre a queda no desemprego.

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