Um dos porta-vozes do chamado "mercado", que dá sustentação à política financista neoliberal de concentração de riqueza, o economista Pedro Paulo Silveira, o Pepa Silveira, criticou Lula pelo aumento real do salário mínimo o que, segundo ele, foi responsável por certo "desespero" dos agentes financeiros.
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Em entrevista nesta quarta-feira (7) ao podcast Os Economistas, da Finclass - canal do "primo rico", codinome do influenciador Thiago Nigro -, Pepa falou das expectativas do mercado para 2026 e já prevê um pós-Lula que fará o mesmo caminho de Paulo Guedes, ex-ministro da Economia de Jair Bolsonaro, de reduzir o aumento do salário mínimo abaixo da inflação. Guedes é sócio de Nigro em um curso de MBA sobre Macroeconomia e Portfolio Management (gerenciamento de portfólio).
Segundo o economista, diretor de gestão de recursos da Nova Futura Investimentos e que ostenta o título de "dono da Carteira Tri Campeã da Exame e Campeã da Valor", a redução do salário mínimo seria a solução para "estabilizar a relação dívida PIB" e evitar uma "crise".
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"Se o Lula perde as eleições em 2026 e em 2027 alguém assume podendo com a caneta estabilizar a relação dívida PIB facilmente zerando déficit primário. Como? Reduzindo o aumento do salário mínimo", diz ele sobre a simples receita para saciar a gana dos banqueiros e aprofundar o fosso da desigualdade.
"Uma parte significativa das despesas - e a gente [mercado] reclama disso - é obrigatório: 3/5 das despesas já são obrigatórias se você colocar estados e municípios e elas são corrigidas a salário mínimo", emendou o economista, sem ao menos tocar nos R$ 816,2 bilhões que o governo federal pagou aos bancos como juros da dívida em 2023 - e é impulsionada pela alta da taxa Selic.
Em seguida, Pepa ataca Lula justamente por ter concedido aumento real no salário mínimo.
"Se o governo não tivesse feito esse aumento do salário mínimo que fez - ele deu 7% de aumento. Se tivesse dado só o IPCA [índice oficial da inflação] de 4%, ele teria economizado cerca de R$ 43 bilhões", diz.
O economista então fala dos desejos do mercado para a próxima eleição presidencial.
"Se chegar a uma situação em 2027 realmente preocupante, se o Lula perde, basta o presidente passar a corrigir o salário mínimo um pouco abaixo da inflação", diz. "Como isso é possível de ser feito, o mercado não se desespera agora. Então, há uma saída. O Paulo Guedes fez um ajuste assim, não teve uma reforma. O ajuste foi feito com base no ajuste do salário dos funcionários públicos", emendou.
Taxa Selic
Em outro momento da entrevista, Pedro Paulo Silveira, defendeu a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que ameaçou voltar a reajustar a taxa Selic, que foi mantida em 10,5%.
Após ironizar a "Paulista" - onde está a Fiesp e o setor produtivo, que é afetado pela alta de juros -, o economista defendeu a alta taxa de juros para "levar a inflação à meta".
No entanto, ele afirma que a maioria dos analistas do mercado ficou insatisfeito e esperava que Roberto Campos Neto conduzisse o Copom para um aumento da taxa básica de juros.
"O BC fez uma sinalização que era razoável, mas cindiu o ambiente dos economistas. Eu diria que 3/4 dessa pizza ficou insatisfeito, achando a sinalização muito 'dove', muito suave diante de um cenário de muita preocupação externa: EUA, Europa, China, Marte, Vênus, Júpiter. E sobretudo aqui no Brasil, esse caos fiscal... Muita gente achava que ele [Campos Neto] deveria colocar um torniquete maior no discurso para garantir a estabilidade das expectativas inflacionárias. Outro grupo, eu me encaixo nele, está mais tranquilo", afirmou.
Especulação com a Selic
As medidas de aumento da taxa de juros defendido por um dos porta-vozes do chamado mercado é justamente um dos motivos que levou à retomada da investigação contra Campos Neto.
Assim como Paulo Guedes, o bolsonarista alçado à presidência do Banco Central é acusado de manter dinheiro em paraíso fiscal e de lucrar, por meio de suas empresas e aplicações, com a taxa de juros elevada.
As investigações foram inicialmente motivadas pela série jornalística Pandora Papers, que revelou dados sobre contas em paraísos fiscais de diversas personalidades e agentes do mercado financeiro, incluindo Campos Neto e Guedes.
A Comissão de Ética havia iniciado a apuração em 2019, mas o processo foi suspenso em 2023 por uma liminar obtida por Campos Neto. Ele alegava que a investigação violava a autonomia administrativa do Banco Central, conforme a lei complementar de 2021.
No entanto, a Advocacia-Geral da União (AGU) argumentou contra a liminar, afirmando que a Comissão de Ética tem a prerrogativa de investigar possíveis conflitos de interesse e desvios éticos de servidores públicos, e que a lei não confere imunidade absoluta ao presidente do BC.
Desta maneira, as investigações da Comissão de Ética contra Campos Neto serão retomadas e o presidente do Banco Central pode, em última instância, perder o cargo e ser alvo até mesmo de ações criminais.